Rio - As últimas madrugadas foram marcadas pelas obras de uma filial do Belmonte. Às 2h ou às 4h da manhã, lá vem o caminhão para retirar caçambas de entulho do bar em reconstrução, com direito a gritos com instruções de manobra, sem qualquer sinal de controle da poluição sonora por parte das autoridades, que também colaboram para o desrespeito e estresse dos moradores. Antes, o barulho era feito por veículos de recapeamento de asfalto contratados pela prefeitura, daqueles que vão para frente e para trás, como rolo de esticar massa caseira, sendo que na hora da marcha a ré uma sirene é acionada. Considerando que o trabalho da máquina consiste nesse movimento de vai e volta, a noite é passada ao som do alarme.
Aqui neste mesmo espaço, em sua coluna às sextas-feiras, Leda Nagle já protestou contra as obras do metrô, com explosões de madrugada, e o resultado das reclamações é nulo. Ou seja, reclamar desses abusos, hoje, é como espernear. Esperneamos, mas... Quando se fala em obra do município, então, não se pode criticar sem perder a razão. Pois a limitação de barulho entre 7h e 22h não se aplica quando é em logradouro público, com movimento intenso de veículos e ou pedestres durante o dia, o que recomenda a realização à noite, segundo lei de 1977.
A impressão é que, com tantos crimes graves, muitos também ficando obsoletos diante da opinião pública, por mais atrozes que sejam, a Lei do Silêncio virou coisa menor, sem importância, violentada como nossos ouvidos. A saúde em risco com altos decibéis e o sossego comprometido são problemas pessoais.
Uma placa com proibição de buzina em frente ao hospital não impede buzinaço de motoristas histéricos. Estes, aliás, descarregam suas frustrações na buzina, esta carecendo de lei de bom uso — que tivesse resultado prático, com multas que pesassem no bolso. Por que passam pelo mesmo caminho se sabem que ficarão engarrafados? Por que não saem mais cedo de casa?
O bom senso permite aquela festa de aniversário dos vizinhos até de manhã, duas ou três vezes por ano. Afinal, também queremos essa licença. Mas o que dizer de quem liga liquidificador, aspirador de pó e máquina de lavar roupa de madrugada? No meu tempo, e não tem tanto tempo assim, tais práticas eram uma tremenda falta de educação. Mas quem liga para ser educado? Grite à vontade.
E-mail: karlaprado@odia.com.br