Por tamyres.matos

Rio - No livro ‘Por que estamos indignados?’ procuro mostrar que as manifestações de junho evidenciaram que o Brasil, depois de 513 anos, se tornou um gigante (sétima economia do mundo) com pés de barro: para grande parcela da população, a saúde está doente, o transporte público é indecente, a educação produz ignorância (porque não prestigiam o professor e as escolas estão desestruturadas), a mobilidade urbana está imobilizada, a infraestrutura é precária, a violência é intensa, e a corrupção, sobretudo dos políticos, é generalizada.

Vivemos, portanto, várias crises: política (representação ilegítima), de governança, socioeconômica (uma das piores distribuições de renda do planeta) e ética. Sociedade sem valores certos. Construímos um país injusto e desigual, além de muito corrupto e violento.
Da porta da casa para dentro, melhorou muita coisa: geladeira nova, fogão última marca, reforma da casa, carro e moto na garagem, celular, acesso à internet, consumo de mais alimentação, etc. O problema do país está da porta da casa para fora: falta esgoto, o trânsito não anda, mas mata muito; a violência é cruel; a corrupção está disseminada; o transporte público virou lata de sardinha; o hospital não tem médico; a escola deseduca; a urbanidade é selvagem, etc.

Da falta de qualidade de vida veio o mal-estar, que é fonte de muitas incertezas. As incertezas produzem medo, o medo gera insegurança, a insegurança cria ansiedade, esta desencadeia ira, que é fonte de intensa indignação. É neste estágio crítico que nos encontramos, com o quadro agravado pela sensação enorme de impotência (perda da identidade). Tudo isso fez eclodir os movimentos populares, que pedem um Brasil mais justo, menos desigual e ético. O consumismo se revelou insuficiente, porque o manifestante quer qualidade de vida, ao descobrir que esta é a vida que vale a pena ser vivida.

Luiz Flávio Gomes é jurista e coeditor do portal Atualidades do Direito

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