Por bferreira

Rio - Ricky, que trabalhou comigo no Pasquim, quer me entrevistar sobre o finado jornaleco. Quando a pauta está fraca, os coleguinhas da imprensa me procuram para falar sobre o assunto. Já disse tudo o que sabia. O que não lembrava, inventava. A esta altura eu mesmo já não sei o que é verdade e o que é cascata nessas histórias. Mas acabei cedendo à chantagem sentimental do Ricky e marcamos a data. Com uma condição: só deixarei ligar o gravador se puder começar a entrevista ao estilo de Paula Lavigne : "Antes de qualquer pergunta, Ricky, me responda: você é homossexual? Qual é o nome do seu namorado?'' Anotem aí: entrevistas sobre o Pasquim, como crocitou o corvo de Poe, nunca mais.

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Qualquer um pode comprar um japa zero quilômetro por 340 paus por mês, a perder de vista. Não precisa ser Nostradamus para prever que em breve os carros ficarão entalados num engarrafamento tão monumental que pagarão – como imóveis – Iptu em vez de Ipva. Essa ouvi num boteco. A boa notícia é que o humor carioca continua afiado. E a ótima notícia é que a esquina da Afrânio de Mello Franco com Ataulfo de Paiva é muito especial, com as esferas de aço na travessia para pedestres pintadas por um artista que não consegui identificar e o tronco das árvores enfeitadas com belas ( e dispendiosas) orquídeas brancas. O chaveiro me disse que quem banca as flores é uma senhora que mora no prédio em frente à sua carrocinha. Ela prefere se manter no anonimato.

E o shopping Leblon adotou uma rotunda amendoeira que já estava lá quando o Leblon era um vasto areal. Contrastando com o Papai Noel na entrada do shopping, com três metros de altura, capacete de operário no lugar do gorrinho vermelho e brandindo um assustador martelo. Um Papai Noel lulista? E para completar, um toque surrealista: no outro lado da esquina fica o Galitos, um boteco chique. Nas toalhas de papel podemos ler a lenda do galo de Barcelos. Seguinte: no século 17 um condenado à forca alegava inocência e disse ao tribunal que na hora da execução um galo assado cantaria. Os juízes riram e disseram que seria libertado se o milagre acontecesse. E aconteceu: quando o carrasco ia começar a trabalhar o galo, que o sujeito tinha levado num prato, cantou. Foi libertado, voltou para casa e acabou morrendo de velho. Sempre que peço um galeto no Galitos temo insanamente que a ave solte um pio na primeira garfada. Mas galo assado cantar e eu dar entrevista sobre o Pasquim, nunca mais.

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