Por bferreira

Rio - Capricorniana convicta, como nos definia, a mim e a ele, o psicanalista Helio Pelegrino, nunca gostei de mudanças. Gosto das minhas coisas arrumadas, dos meus repetitivos trajetos, dos velhos amigos, da trilha sonora da vida inteira e do mesmo endereço. Aliás, gosto tão pouco de mudar que moro no mesmo prédio há 30 anos. Nem eu mesma acredito que estou de mudança. Mas estou.

Não sei se vou gostar do endereço novo e, com certeza, vou estranhar muito até que tudo fique em ordem. Mas nada disto me parece mais difícil do que este momento em que convivo com as caixas, com as lembranças e, sobretudo, com as obras. Bem que os amigos avisaram que obra é coisa pra se desejar ao pior inimigo. E, em meio ao caos, sinto na própria pele, como meus amigos têm toda razão. Obra é um saco. Um estresse só. Uma máquina de engolir dinheiro. E, o mais grave, um encontro frontal com o preconceito. Os operários, de modo geral, não gostam de receber ordem de mulher. Sempre olham com desdém, e se acham superiores a nós, mulheres.

Mas há, felizmente, prestadores de serviço da vida inteira como o marceneiro Waldessir e seu fiel escudeiro Nelson, os estofadores Tania e Claudio e há descobertas bonitas como a do eletricista Juninho, orgulhoso do seu ofício e do belo quadro de luz que criou. Fora a ajuda luxuosa de amigos como a super Maria Lucia, o eficiente Geraldo Brasil e o talentoso Ricardo Bruno. Fazer obra requer uma infinita paciência. E não estou falando só da entrega sempre atrasada e adiada do mármore ou com a conta cara do gesseiro. O pior é que ninguém entrega nada no prazo, tudo sempre atrasa, não chega e a nossa impotência só cresce. E o que a gente aprende só vai ocupar espaço e não terá a menor importância na vida real. Quer um exemplo? Privada não chama privada. No mundo da construção civil chama bacia sanitária. Outra coisa interessante é a sobra de material.

Você conversa com o pedreiro, leva a planta pra loja, o vendedor faz inúmeros cálculos, e o material nunca está na quantidade certa. Sobra uma enormidade do piso, faltam não sei quantas placas da iluminação e o revestimento da parede come muito mais rejunte do que foi calculado. E tudo isto sem falar da quantidade de coisas que é preciso instalar, tipo TV a cabo, telefone, internet, gás, varal e sei lá mais o que. Tomara que o espaço maior me compense de tudo isto, que os telefones se mantenham os mesmos e que tudo volte logo pro lugar. Quanto à varanda, que perdi, criei um canto verde que, um dia, vai ser especial. Falta mesmo vou sentir dos meus atuais, eficientes e gentis porteiros. Inesquecíveis.

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