Por bferreira
Rio - No sentido figurado, eixo significa o centro de uma estrutura. A cultura urbana carioca sofreu um deslocamento simbólico, de importância ainda imensurável, em especial para jovens de territórios populares, com a criação do Instituto EixoRio. Foi emocionante ver um “bonde” de negros e quase negros de origem popular ocupar o Palácio da Cidade — uma das sedes da gestão pública do Município do Rio —, no lançamento do EixoRio.
A iniciativa da prefeitura é um marco paradigmático. Afinal, traz para o centro da agenda do estado a construção de políticas públicas para o desenvolvimento de múltiplas formas de produção, inventadas por sujeitos que, historicamente, produzem sua arte à margem do diálogo com as estruturas do poder.
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O EixoRio visa a apropriação da cultura como eixo estratégico para a construção de novo modelo de desenvolvimento econômico e social. Ainda há barreiras entre a intenção da prefeitura e a adoção de medidas para preparar a máquina pública para lidar com essas formas de arte e cultura. Contudo, ao criar uma estrutura formal dedicada a fomentar a produção criativa, constituída por uma juventude que se afirmou criando meios para pular tais barreiras, o que vejo na criação do EixoRio é o prefeito Eduardo Paes entregando a estes sujeitos uma potente ‘marreta’ para quebrá-las.
Este processo formará nova geração de gestores públicos e um núcleo que será referência institucional para a arte e a cultura urbana no mundo. Esta é a vocação do Rio e o sonho desta molecada. Para quem não acredita, deixo a seguinte reflexão: quem consegue, saído de favelas e periferias, se fazer sujeito produtivo pela arte e pela cultura saltando os muros complexos de uma sociedade que insiste em reservar a cena da criatividade para as camadas médias e abastadas, atravessar oceanos e cruzar os céus é galho fraco para quebrar.
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Produtor de cultura, coordenador executivo do Circo Crescer e Viver