'O que era aquele pai abraçando seu filho pequeno e suplicando que não batessem neles?'
Por nara.boechat
Rio - Uma pequena revolução está acontecendo no Morro de Mangueira, liderada pela guerreira Célia Domingues, da Associação das Mulheres Empreendedoras do Brasil, entidade que há 20 anos vem apostando na indústria criativa do Carnaval e que hoje se apresenta como a grande parceira da Liga das Escolas de Samba nos projetos sociais: os artesãos descem a comunidade até a quadra da escola e lá apresentam seus objetos artísticos. Tem de tudo, desde a moça que faz envelopes e cartões personalizados, nada feito por máquina, tudo à mão, até o que faz caixas de madeira com pintura craquelê. Precisam de quem financie e de quem venda o que eles produzem.
Pois agora encontraram, porque Célia possui os pontos e a expertise de orientá-los sobre o que vende mais, quais cores, o que o turista quer etc e tal. E ela também levou o programa da Caixa Econômica Federal voltado para o empréstimo e orçamento de pequenos produtores que querem crescer e está organizando a burocracia desta gente, tipo encontrar o custo do produto e orientar para o preço final. Agora os pequenos criadores da Mangueira, pegando X de dinheiro para comprar o material e produzindo X produtos que a Célia vende, ganham X em dobro, pagam o que pegaram e os juros de 5% ao mês e, se não beberem tudo na birosca do sábado, terão lucro suficiente para pagar a vida pessoal e continuar a investir na compra de material para mais uma rodada. É ou não é bacanérrimo? E o Wanderley, representante do banco, disse que, quando ele tiver formado uma geração de novos empresários, quem ganha é o país o próprio banco. É uma vez por mês, e é um pequeno milagre brasileiro.
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Já falei a notícia boa, agora vamos para a má: eu tenho preconceito contra quem vai a estádio de futebol. Eu sei que aquilo não acontece sempre, que é exceção, mas o preconceito é burro e eu me apavoro, me arrepio quando vejo os homens com camisas de time de futebol. Eu os associo àquelas bestas-feras que davam pauladas na cabeça do desacordado. Eu tenho pavor a estádio de futebol, eu tenho horror a jogo, eu corro de torcidas. Preciso repensar minha repulsa a esta maravilhosa demonstração da arte brasileira, mas, cada vez que acontece uma pancadaria desta, eu saio traumatizado. O que era aquele pai abraçando seu filho pequeno e suplicando que não batessem neles? Quem precisa passar por isso? E o meu preconceito pesa muito, porque, como gay e amante da escola de samba, eu encaro o preconceito duas vezes, ambos burros e inexplicáveis como este que eu sinto quando vejo arquibancada cheia, aos gritos, em dia de jogo. Aquilo não representa o futebol! E, assumindo meu preconceito, vou tratar de repensá-lo.