Cidadão eleitor, contribuinte cansado de partilhar os frutos de seu trabalho, precisa se preparar melhor para votar
Por thiago.antunes
Rio - Um hábito sempre recomendável é o da releitura de livros. Assim é que fui encontrar um texto do ano 2000, do luso-brasileiro Antonio Gomes da Costa, em que recorda, com grande propriedade, Machado de Assis e seus comentários sobre os políticos do século 19.
A alusão se refere a uma das Cartas Fluminenses, com que o imortal Machado intitulava a maioria de seus artigos na imprensa carioca. Irritado com a quantidade de candidatos a deputado, escrevia que “há políticos por vocação, políticos por ambição, políticos por vaidade, políticos por interesse e políticos por não terem nada o que fazer”. Afirmava que ficava difícil eleger uma “câmara inteligente, generosa, honesta, sinceramente dedicada aos interesses públicos”.
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Impressionante a oportunidade das palavras do mestre, que permanecem atuais até os dias de hoje. Naquela época, eram poucos os eleitores, o voto não era obrigatório, os partidos eram em menor quantidade e procuravam ser seletivos na formação das chapas. E era Império. Na República, a qualidade só veio piorando, como se constata no noticiário político, hoje muito mais policial, por envolver tantos delitos. O que salva são que os bons costumam ser reeleitos.
Machado cobrava ainda programas de candidatos. Tudo como hoje, em que as propostas visam à próxima eleição e não às gerações futuras. Os programas beiram o “óbvio ululante”, como diria outro talento de nossas letras, Nelson Rodrigues. Todos querem agradar ao eleitor. O melhor para o Brasil, mesmo que pedindo sacrifícios e limites, não conta. Tudo isso torna complicado defender a democracia, que, na feliz definição de Churchill, seria o pior dos regimes, excetuados os demais.
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Em ano eleitoral importante, a economia já não vai tão bem e o social está sendo salvo pelos programas de governo e a baixa taxa de desemprego. Mas o cidadão eleitor, contribuinte cansado de partilhar os frutos de seu trabalho ou poupança com o governo, precisa se preparar melhor para votar. Afinal, é sua qualidade de vida que está em jogo.
O melhor é conhecer os candidatos e, principalmente, avaliar o que já fizeram de bom para a sociedade nos cargos ocupados. Especialmente quando se trata de cargos no Executivo. Votar na emoção ou na recomendação não é uma boa pedida. Eleição não é concurso de beleza, de carisma ou de acusações. Mas, sim, uma escolha consciente. Machado de Assis já sugeria.