Poderemos passar uma vassoura geral, mandando para o lixo da história parlamentares de pouco serviço
Por thiago.antunes
Rio - Eis um ano novo de muitas expectativas. A primeira, evitar a volta da inflação. Felizmente não há indício de que veremos o mesmo filme dos últimos meses do governo Sarney, quando a inflação chegou à casa dos 80% ao mês. O grave é que a especulação acelera, a produção e as exportações caem, o crescimento do PIB diminui, as privatizações se multiplicam, as desigualdades sociais se acentuam.
É o ano de comemoração (fazer memória) dos 50 anos do golpe que derrubou um governo constitucionalmente eleito e instalou a ditadura militar, sem que o paradeiro dos desaparecidos políticos tenha sido esclarecido, nem punidos aqueles que torturaram, assassinaram, sequestraram em nome e sob a cobertura do Estado, em especial das Forças Armadas.
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Na falta de mais pão, teremos circo: a Copa do Mundo. O Brasil entra manco, sem garra, com um time estressado pela obrigação de fazer dinheiro. Acabou o futebol arte, os efeitos de Didi, os dribles de Tostão, os avanços de Vavá, os gols de Pelé e o balé de Garrincha.
Enfim, este é o ano de passarmos o Brasil a limpo. No dia 5 de outubro, cada eleitor irá às urnas escolher sete novos servidores públicos: um deputado estadual, um federal, um senador, governador e vice, presidente e vice. Eis a chance de extirpar das Assembleias Legislativas os deputados de bicheiros e de cartéis, mais interessados em multiplicar o próprio salário que servir à população carente. Dos governos estaduais os eleitores deverão aposentar as velhas raposas.
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Em Brasília, poderemos passar uma vassoura geral, mandando para o lixo da história deputados e senadores de muitos anos de mandato e pouco serviço, corrompidos por empreiteiras e oligopólios, sem nenhuma visão do que seja cidadania e democracia.
As eleições deverão confirmar o aperfeiçoamento da democracia, a valorização da cidadania e, sobretudo, da política como resposta às urgentes demandas sociais, como melhoria da Educação, da Saúde e do transporte.
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Um governo que ouse fazer reforma agrária, promover a desconcentração da renda, redimensionar a dívida pública, que faça cessar o desmatamento da Amazônia, que reduza a desigualdade social. Temos tudo para fazer de 2014 um novo ano feliz para a maioria do povo brasileiro. Vai depender de nossa capacidade de mudar o que de ruim insiste em perdurar, renovar o que de antipopular teima em se repetir e apoiar o que de bom significa transformar.
Frei Betto é autor de ‘Calendário do Poder’ (Rocco)