Por thiago.antunes
Rio - Em ano eleitoral, muito se discute sobre as marcas dos que disputam mandatos para o Executivo. Mas, por mais que tente formar um modelo, a experiência mostra que o dom vem pelo lado da chamada ‘inteligência emocional’, as qualidades da intuição, do bom senso e da praticidade. Políticos de personalidades diferentes e pensamentos opostos podem ser igualmente eficientes.
O Rio de Janeiro, então Estado da Guanabara, oferece exemplo clássico. Seus dois primeiros governadores eram adversários políticos — quase inimigos pessoais —, com linhas de pensamento e comportamentos opostos.
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Mesmo assim, ambos são lembrados com admiração pelos mais velhos e fazem parte da história da cidade, que vai completar 450 anos ano que vem.
Carlos Lacerda, polêmico político, jornalista agressivo, homem de temperamento imprevisível, ambicioso até não mais poder, foi um grande gestor.
Tocou a maior parte da obra do Aterro do Flamengo, que hoje leva seu nome, iniciada e concluída pelo seu adversário e sucessor, Negrão de Lima, prefeito nomeado por JK e depois governador eleito. Formou uma equipe de alto nível composta de personalidades como o educador Flexa Ribeiro, seu candidato à sucessão; Marcelo Garcia, consagrado pediatra, na Saúde; Hélio Beltrão, no planejamento; Luís Roberto Veiga Brito, para resolver o drama da água; Antônio Carlos Almeida Braga, no banco estadual, entre outros.
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Sua vibrante e controvertida atividade de oposição ao então governo federal não impediu que executasse grande obra. Negrão de Lima, hábil diplomata e político, homem da articulação do Estado Novo, coordenador da campanha de JK, de quem foi prefeito, ministro das Relações Exteriores, foi eleito por maioria absoluta.
E convocou o que existia de notável na época, como Álvaro Americano, na reorganização do funcionalismo; Cotrim Neto, jurista e intelectual, na Justiça; Júlio Catalano, na coordenação política; João Lyra Filho, na consolidação da Uerj; Paula Soares, nos notáveis projetos da Lagoa-Barra e alargamento da Avenida Atlântica — sem as quais, aliás, seria difícil imaginar a cidade nos nossos dias, assim como a remoção das favelas do entorno da Lagoa.
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Na saúde, Hildebrando Monteiro. Nem o fato de ter sido eleito por forças políticas contrárias ao regime militar o impediu de manter excelentes relações com os três presidentes durante seu mandato: Castelo Branco, Costa e Silva e Emílio Médici.
Já em São Paulo, o governador Carvalho Pinto, respeitado por sua postura austera de aristocrata em oposição a seu adversário, Adhemar de Barros, quatrocentão, populista e grande realizador, fez uma gestão medíocre. Deixou como marca apenas a austeridade e a responsabilidade.
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É nome de rodovia, construída pelo governador Luiz Antônio Fleury, mas não fez nenhuma de importância em sua gestão. Logo, se o político deve ter sensibilidade acima de tudo para bem governar, o eleitor deve ter cuidados maiores para não se deixar levar pela aparência ou pelo discurso. A política é assim!
Aristóteles Drummond é jornalista
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