Por tamyres.matos
Rio - Em 23 de abril de 1957, ‘O Globo’ reportava: “Quando um guarda-vidas retirou, do perau em que caíra, o corpo da vedete, Celeste Aída abraçou-se ao cadáver, chorando copiosamente. Vira a amiga desaparecer e tudo fizera para salvá-la. Na areia, assustadas, cinco girls assistiam à luta de Celeste, sem poder ajudá-la. Afinal, cansada e desanimada, Celeste voltou às areias, Zaquia Jorge desaparecera e, quando foi encontrada, já estava quase sem vida”.
Zaquia, que completaria neste mês 90 anos, é a ‘Estrela de Madureira’ da canção de Acyr Pimentel e Cardoso. Sucesso na voz de Roberto Ribeiro, a música foi composta como samba-enredo para o Império Serrano. Mas não chegou à Avenida. Naquele 1975, a escola cantou o samba de Avarese, vitorioso na quadra, e que se inicia com uma saudação à homenageada (“O Império deu o toque de alvorada/ Teu samba a estrela despertou/ A cidade está toda enfeitada/ Pra ver a vedete que voltou”).
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Antes disso, a atriz havia sido pranteada em outro samba, o célebre ‘Madureira chorou’ (“Madureira chorou/ Madureira chorou de dor/ Quando a voz do destino/ Obedecendo ao divino/ A sua estrela chamou”), de Carvalhinho e Júlio Monteiro, gravado por Joel de Almeida em 1958. Curioso é que tanto ‘Estrela de Madureira’ quanto ‘Madureira chorou’ são atualmente pouco relacionados à atriz.
E pensar que essa mulher hoje quase desconhecida levou mais de quatro mil pessoas ao velório, no Teatro de Revista Madureira. O próprio presidente da República, Juscelino Kubitschek, enviou representante ao sepultamento. Completavam-se, então, cinco anos que Zaquia inaugurara a casa de espetáculos — o primeiro e único teatro de rebolado do subúrbio carioca. Na estreia, foi encenada a peça ‘Trem de luxo’, à qual ‘Estrela de Madureira’ faz alusão: “E um trem de luxo parte/ Para exaltar a sua arte/ Que encantou Madureira”.
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A compra do teatro, que funcionou no prédio onde hoje há uma loja de eletrodomésticos, deu-se após carreira de sucesso como vedete. Zaquia trabalhou com Walter Pinto e atuou em filmes de Gilda de Abreu e Luiz de Barros até que decidiu abdicar dos holofotes mais disputados da cidade e, com pioneirismo, levar a arte da revista para além do Centro e da Zona Sul.
Seu trágico afogamento na Praia da Barra, aos 32 anos, suscitaria polêmica. Comentou-se à época que a artista teria bebido uma garrafa de uísque antes de entrar na água, mas o exame de alcoolemia deu negativo. A imprensa chegou a falar em homicídio.
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O fato é que a morte de Zaquia significou também o fim de seu teatro. E o primeiro passo para o gradual ocaso que as canções sobre ela tentam, parcialmente, iluminar.
Marcelo Moutinho é jornalista e escritor