Rio - Morteiros matam. Quem lançou o artefato que atingiu gravemente o repórter-cinematográfico Santiago Andrade na quinta-feira não o fez por recreação ou por bateção de bumbo. O criminoso que acendeu a bomba — testemunhas garantem que o indivíduo fazia parte de bando de mascarados — tinha a inequívoca intenção de ferir, de cercear, de intimidar. O bravo jornalista, que acompanhava mais uma manifestação de desordem, infelizmente estava no caminho do morteiro. Como poderiam ter estado policiais, estudantes, ativistas de cara limpa, qualquer pessoa de bem.
O Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual a Constituição Federal se baseia, afirma categoricamente que “toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão”. O documento atesta ainda que a qualquer um é garantido “ ter opiniões e procurar, receber e transmitir informações e ideias”. Explodir morteiros a esmo definitivamente não é forma de expressão. É intenção de matar. De modo análogo, destruir, apedrejar, queimar e bloquear não transmite nada a não ser medo e terror.
Os esplêndidos atos de junho arrefeceram e deram lugar a sessões de violência. O ato de quinta-feira, ainda que tenha reunido manifestantes cidadãos, teve o mesmo fim. Agora, com o agravante de ter vitimado um trabalhador. A punição do criminoso que soltou o rojão é essencial para reafirmar o direito à liberdade de informação no Brasil. Bradar pelos mascarados, neste caso, é pegar emprestado o necessário discurso dos direitos humanos e usá-lo rasteiramente para camuflar o perigoso ideário fascista e anarquista.
O Brasil e o Rio precisam, sim, do povo nas ruas, pois ainda são muitas as injustiças e reivindicações. Mas o discurso da violência nada conseguirá a não ser cercear a própria liberdade. O jornalismo cidadão, sempre ao lado da sociedade, tem fé na recuperação de Santiago. E continuará o trabalho responsável.