Por tamyres.matos

Rio - Compartilhei há dias de uma experiência emocionante. Visitei um núcleo de ações culturais encravado no Complexo da Maré, um conglomerado de favelas muito conhecido no Brasil. Se uma favela já luta contra as dificuldades e as injustiças sociais, imagine um conjunto interligado de comunidades!

Pois ali se instalou o Observatório de Favelas, criado em 2001, e que desenvolveu um ambicioso plano de atividades culturais, hoje beneficiando milhares de pessoas. E não apenas na Maré, mas também em outras favelas. Surge mercado de trabalho para muitos jovens, que pouquíssimas chances têm de usufruir bens culturais.

Confesso que me surpreendi com a diversidade dos projetos e com a garra de seus colaboradores. O Observatório tem sede em dois enormes galpões na entrada da favela que abrigam um grande número de salas, em que são disponibilizados centros de computação, de fotografia e vídeo, de aula e até salão para exposição.

Magnificamente estruturado e bem pensado, o órgão é certamente um observatório de ideias e um fazedor de reinvenções. Se eu fosse citar e descrever todos os projetos realizados, uma página inteira deste jornal não bastaria. Aponto, contudo, alguns que me cativaram, como a Escola de Fotografia Popular, que oferece cursos regulares e de aperfeiçoamento fotográfico. Essa escola, que já favoreceu dezenas de fotógrafos, é complementada por um curso de Formação de Educadores em Fotografia.

É isso mesmo que você está lendo, ou seja, a sofisticação de formar agentes multiplicadores do ensino da fotografia em áreas populares. Outros títulos estimulantes são os projetos Redução da Violência contra Adolescentes e Jovens, ou até uma Escola Popular de Comunicação Crítica. A tal ponto o conjunto de ações é arrebatador que, a par da colaboração inicial da Fundação Ford, os convênios com universidades de dezenas de países fazem hoje desembarcar na Maré uma onda de acadêmicos estrangeiros. Em busca de ver a esperança.

Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin

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