Rio - O combate ao crime no Brasil tem saldo comparável a muitas guerras mundo afora. O impacto da violência ‘engorda’ a cada dia a estatística de óbitos, atingindo a população como um todo, mas, essencialmente, os agentes de segurança pública — sejam policiais militares, civis ou federais. Em verdade, por serem responsáveis pelo combate ostensivo e pela manutenção da ordem, ficando na linha de frente do combate à marginalidade, PMs acabam sendo as maiores vítimas.
Nesta semana, mais um militar foi assassinado, o nono morto em confrontos em áreas pacificadas. Notoriamente, a cúpula da Segurança Pública precisa repensar a estratégia dessas comunidades, dando um passo a mais, no qual, antes de tudo, os agentes ali mantidos estejam protegidos e com garantias para o exercício da função.
Somente nas favelas do Alemão, pacificado desde 2010, já foram cinco baixas. Há pouco mais de um mês, uma soldado foi morta na região. E assim foi na Rocinha, na Coroa, em Santa Teresa, no Batan, em Realengo, e na Cidade de Deus.
Áreas pacificadas, mas que encontram forte resistência dos bandidos remanescentes das facções que dominavam essas localidades por décadas. Para se ter ideia da ousadia e da insistência dos traficantes, até a delegacia inaugurada em dezembro no Alemão já foi alvo de um ataque.
Essa realidade não é de agora. Em 2012, levantamento feito junto às secretarias estaduais de Segurança do país revelou que um policial é assassinado a cada 32 horas no Brasil. Na época, foi constatado que os dados oficiais apontavam que ao menos 229 policiais civis e militares haviam sido mortos, e a maioria deles, 183 (79%), se encontrava fora do horário de serviço.
E sabemos que esses números eram maiores, pois na época Rio e Distrito Federal não discriminaram as causas das mortes de policiais fora do horário de expediente, além de outros estados que não enviaram dados. Hoje, além do alto índice dos assassinatos de policiais em folga, as mortes daqueles em serviço vêm crescendo avassaladoramente.
Independentemente das medidas adotadas, especialmente no Rio, através das Unidades de Policias Pacificadoras — até certo ponto muito bem-sucedidas —, o fato é que estamos vivendo período de crescente retaliação de bandidos que desafiam a presença da polícia em áreas que eles sempre dominaram. O número cada vez maior de ataques e mortes de policiais deve ser freado o quanto antes. Para isso é preciso que a inteligência seja determinante na proteção dos agentes públicos de segurança. Caso contrário, eles continuarão sendo alvos fáceis.
Marcos Espínola é advogado criminalista