Rio - Faço uso do Facebook para me comunicar com os estudantes, principalmente os do Ensino Médio. Por meio de um grupo fechado, encontramos uma forma rápida e dinâmica de trocar informações sobre as atividades da sala de aula, de tirar dúvidas e compartilhar arquivos. Funciona bastante. Se antes encontrava com a turma uma vez por semana, hoje, por meio da web, estamos conectados o tempo todo.
Parece que essa relação me aproxima mais dos estudantes. A rede social acaba se transformando numa ágora coletiva de trocas de opinião, pela qual passamos a nos conhecer melhor. Se isso interfere no rendimento escolar deles? Talvez sim. O que posso garantir é que tal relação, em alguns grupos, vem propiciando uma reflexão contínua sobre respeito e os usos da internet, a questão do direito autoral, os limites da exposição, a percepção do público e do privado, a figura pública e o uso de imagens e de vídeos.
Nesta semana, um grupo de alunos pegou uma foto minha, tirada na escola, e fez uma montagem, uma espécie de fotolegenda, brincando com a minha postura de ser um professor ‘rígido’ que cobra atenção, respeito e dedicação em sala. Uma brincadeira sem ofensas, dentro do contexto da turma. A imagem era para ser circulada somente no âmbito dos estudantes. No entanto, um deles mostrou para um ex-aluno, que resolveu publicar no Facebook. Em poucos instantes, vi a foto na rede, não no grupo fechado.
Não fiquei zangado pela foto. Qual estudante nunca fez um desenho do seu professor e o circulou na aula? Os tempos mudaram. A tecnologia está aí. Os celulares tiram fotos, e você nem percebe. Tais brincadeiras de ontem e de hoje (e de amanhã) fazem parte da cultura da escola. Ir contra a isso é um erro. As questões são de outra ordem. Por exemplo: a falta de controle que se tem das informações que se publicam na internet. As consequências de que um post pode ter na imagem/reputação das pessoas. Neste caso, não era nada ofensivo, mas poderia ser.
Escrevi uma carta para todos os envolvidos explicando, mais uma vez, o perigo que corremos nos dias de hoje nas redes sociais. E as responsabilidades que cada um tem diante de suas ações, cujas consequências podem não ser as melhores. A tal foto no grupo particular deles ou no nosso estaria dentro de um contexto, de uma realidade. Solta, poderia gerar diferentes significados.
Deletaram e entenderam o recado. Assim como outras centenas de professores, mantenho com meus estudantes essa relação nas redes sociais, que também é uma novidade para nós, adultos e professores. Há quem discorde desta ação. Respeito. Mas, mesmo com esses acontecimentos, creio que a experiência, a troca e as reflexões têm sido enriquecedoras.
Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia