Por bferreira

Rio - Não há dúvida de que, juntos, somos capazes de fazer, sentir e viver coisas que jamais teríamos a chance se estivéssemos sozinhos. Perdidos na multidão, podemos mais. Seja no meio da torcida do time de futebol do coração ou de um bloco de Carnaval, não é mesmo?

As grandes metrópoles são prova de que, juntas, muitas andorinhas podem fazer verões bem diferentes. Não é à toa que muita gente ainda brinca de resumir o dia a dia de cada cidade a uma única palavra. Qual palavra resumiria Paris? Roma? E São Paulo?

Já no começo do século 20, o Rio de Janeiro já tinha entrado no jogo quando lhe atribuíram o título de Cidade Maravilhosa. O mito do paraíso tropical fez sucesso nas páginas dos jornais até cair na boca do povo como marchinha de Carnaval e se transformar no hino da cidade.

Tivemos que esperar até meados dos anos 1990 para que outro adjetivo fosse atribuído ao Rio, o de Cidade Partida. O jornalista Zuenir Ventura precisou se embrenhar nas favelas cariocas para desvendar os enormes muros que dividem a cidade. Enquanto muitos acreditavam que por aqui imperava a lógica do “Junto e Misturado”, aprendemos com o jornalista que, na verdade, a regra principal era a do “Junto e Separado”.

A implementação das Unidades de Polícia Pacificadora prometeu colocar abaixo os altos muros. Se antes, dentro das próprias favelas, o território era disputado entre o tráfico, a polícia e os moradores, com a saída dos traficantes armados esperava-se que o Estado devolvesse o morro aos locais.

Essa não tem sido uma tarefa fácil. Por mais que os governantes afirmem que a nova polícia veio para ajudar e atender aos anseios dos cidadãos, o histórico de uma relação conturbada entre moradores e policiais tem tornado a parceria um desafio. Há muito bigode grosso se valendo de suas patentes altas para dar aula a quem quer que seja. E de quem é a culpa?
A culpa é nossa!

Foi sabendo disso que Isabel Monteverde resolveu agir. Especialista em neurolinguística, a pesquisadora subiu o Morro da Babilônia para mostrar que, conversando, policiais e moradores tinham muito a aprender. Com uma metodologia lúdica e muito eficaz, Monteverde vem mostrando que palavras como coragem, altruísmo, resiliência e pró-atividade, que antes eram usadas para coagir, hoje podem unir. Ao colocar, com sucesso, crianças e policiais em pleno diálogo, Isabel nos faz exercitar outro sentimento: a esperança de um Rio sem muros.

Só há um problema: sozinha, uma andorinha não faz verão.

Sócio-diretor da Consumoteca

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