Por bferreira

Rio - O golpe militar de 64 está completando cinquenta anos. Talvez seja importante lembrar a data para que, ainda em tempo, reflitamos sobre o quanto de nós foi roubado, não somente em termos de liberdade de agir, mas em termos de liberdade de pensar e de reagir.

Será que a cúpula do Exército está planejando uma festa a rigor para reunir os generais da reforma e oferecer-lhes medalhas comemorativas pelo grande feito de ter livrado o país das garras do comunismo? Será que os segmentos da imprensa que na época apoiaram o golpe darão destaque aos quão efetivos foram os seus resultados?

Gostaria de, nessa data, refletir um pouco sobre as consequências nefastas que esse período obscuro deixou no campo da Educação. Comecemos pela anestesia ufanista, aplicada a toda a população através de hinos e canções feitas especialmente para tornar o coração de todo brasileiro “verde, amarelo, branco e azul-anil. Eu te amo meu Brasil!” O surto de patriotismo pousou na escola sob a forma de EMC e OSPB, lembram? Disciplinas obrigatórias que serviram para ocupar o espaço em que deveríamos estar refletindo sobre como superar as mazelas da nossa história e da nossa economia.

Complementando a estratégia alienante, tivemos a supressão da Filosofia e a redução da carga horária de Geografia e História através da criação de um engodo chamado Estudos Sociais em que mal estudávamos nomes, datas, estados e capitais, além do quanto esse era um país que ia pra frente, de uma gente amiga e tão contente.

Outra estratégia aniquiladora desse período no contexto educacional foi a onda tecnicista que reduziu tudo à forma, relegando o conteúdo a mero detalhe. Tínhamos pressa e precisávamos formar mão de obra para o boom desenvolvimentista que estava por vir. Tudo era passível de ser ensinado através de instruções programadas que nos motivavam a cada acerto, bem ao estilo cão de Pavlov. Qualquer semelhança com manuais militares não é mera coincidência.

Contudo, a mais deteriorante herança que esse período deixou na Educação é a representação de escola disciplinada que mora no imaginário de alguns professores e gestores, na qual o autoritarismo deve se prestar à formação de cidadãos cordatos e gentis. A descrença na liberdade é, ainda hoje entre nós, o principal efeito desse ato ocorrido no dia internacional da mentira, talvez para que nunca acreditássemos na extensão de seu mal.

Júlio Furtado é professor e escritor

Você pode gostar