Por bferreira

Rio - Normalmente, dia de aniversário é dia de felicidade. Mas hoje, nesse 31 de março, não. Dia triste, data que marca os 50 anos de morte da democracia, uma vergonha. Comemoração, alegria, só com o alívio do fim do regime militar, trazido por Tancredo Neves, que seria nosso primeiro presidente civil, somente 26 anos depois, em 1985.

Faz 50 anos que se deu o golpe militar, consolidado em 1º de abril, justo o Dia da Mentira, mas não era. Foi uma verdade que persistiu sob o comando de cinco militares que se revezaram no poder ao longo daqueles anos. Essa verdade, iniciava, então, o mais longo período de interrupção da democracia no país. Não gostaria de recordar a data, nem aqueles tempos, sei que alguns leitores também não, mas é inevitável.

Jornais e fotos em preto e branco revelavam o clima obscuro daqueles dias. Faltavam recursos tecnológicos, que acabavam dando às manchetes o tom escuro dos acontecimentos cor de chumbo. Era o fim dos direitos civis, Congresso fechado e pronto. Ou se era a favor ou se era contra. Se contra se era, se era preso, perseguido e, por vezes, morto.

Respirava-se a bossa nova, havia aquela esperança no ar, uma expectativa que foi abortada. Eram os anos 60, aquele fervilhar de tudo e de todos. A figura do marechal Castelo Branco, cujo nome não fazia jus a essa cor, dava medo, assustava. Era casmurro, mal encarado. Me perguntava sempre se tinha sido escolhido pela fisionomia assustadora ou pela maldade. Coisas de jovem daquela época. Mas assustava, disso ninguém discorda.

O discurso de posse... posse? Creio que não foi o caso. Foi mesmo tomada de poder, era pesado, desanimador. Colocava fim às esperanças de uma época que mal começava a nascer. Interferia nos sonhos e no comportamento de toda uma juventude que despontava, projetos e atitudes. Não merecíamos aquele castigo. Era o aborto de um tempo em que Jango, junto com Maria Thereza, tinham glamour. Ela foi a primeira-dama mais bonita da História. O país, como se dizia na época, era “uma desordem total!”

Mas voltemos aos tempos felizes, a Tancredo Neves e a todo o processo de abertura política concluído pelo general Figueiredo e sua mulher, a alegre e dançante Dona Dulce. Ele ficou famoso pela frase referente ao processo de abertura prometido: “É pra abrir mesmo. Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento!” Quem se lembra?

Diretas já! Era o ano de 1984. Depois de todos os percalços e resistências de alguns militares linha-dura, em 15 de janeiro de 1985, Tancredo Neves é escolhido como presidente. Felizmente, passaram 50 anos do golpe militar, ou seja lá como queiram chamar, há divergências.

Lembremos: tudo que justificou o golpe de 64, a grosso modo, foi a bagunça e desordem reinantes no país por conta da perda de poder de Jango. Ironicamente, cinco décadas depois, nos encontramos numa situação trágica e, creio, não haverá mais tomada de poder vinda das Forças Armadas. Quem sabe uma revolução civil, através da consciência do eleitor na abstinência de votar, venha colocar fim ou iniciar um processo de transformação na sociedade e na política brasileiras?

Fernando Scarpa é psicanalista

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