Rio - A clássica ilustração da evoluçao humana idealizada pelo naturalista Charles Darwin vem merecendo uma atualização. O britânico morreu faz 130 anos. Já justificaria uma mão de tinta da tela dos chimpanzés-sapiens. Acontece que o barbudo não conheceu os iPhones e andróides da vida, não teve acesso às pesquisas médicas que apontam esses aparelhos como responsáveis pela nova formação da coluna cervical humana. Causa e efeito capazes de contribuir pra que o sujeito seja descoberto pelo patrão, esposa e outros agiotas, no auge do seu porre vespertino, o celular escondeu o olhar da pessoa. Outro dia, a televisão transmitia uma importante partida de futebol. O diretor de imagem corta pra arquibancada, busca um suspiro, um riso desdentado, um grito em perdigotos, mas a cena é desconcertante: todos, cabeça baixo, respondiam no teclado digital, torpedos ‘facebocanos’ ou curtiam o Instagram de um jantar molecular.

A cervical da próxima geração nascerá com as vértebras maleáveis, um gel resistente surgido entre as células que se multiplicam atrás de aplicativos. O queixo, com a mandíbula mais arredondada, se apoia na cavidade que brotou bem no topo da segunda costela e o homem, enfim, poderá definitivamente ler seus ‘tuítes’ sem crises de labirintite, sem perder um comentário fundamental. Foi-se o tempo em que estar cabisbaixo exigia um tratamento psicológico. Nada humilhado, o cabeça baixa ri sozinho. Desenvolveu um polegar contorcionista, também evoluído. Escreve versos alexandrinos na velocidade de um Messi determinado, rola a tela no toque do WhatsApp mantendo o fone de ouvido em alto funcionamento, a última trincheira ao mundo real.
Assim como o bico do tentilhão, nas ilhas Galápagos, o bípede primata precisa se adaptar aos tropeços que a vida em banda larga promove. Capacetes à prova de postes estarão incluídos na cesta básica. Merthiolates vendidos em biroscas, galões como os filtrados em bebedouros, pintarão os joelhos ralados dos virtuais. Tudo em prol da evolução humana. Darwin, morto, recorro a um especialista que traz um contorno científico à questão: “Postura cifótica. Curvos como o ‘Corcunda de Notre Dame’, estaremos todos em lordose até o fim da conexão”. O mundo gira. A ampulheta, embriagada, roda.Como diria James Dean: Assim Caminha a Humanidade.