Por adriano.araujo

Rio - Já percebeu que existe uma espécie de ‘valores do mal’ rondando nossa sociedade, que fazem com que consideremos o certo como errado e o errado como certo, diante de algumas situações? Parece que ideias vão sendo disseminadas entre nós como naturais quando, na verdade, são pouco naturais e até mesmo egoístas e egocêntricas. É preciso estar muito atento para não ser levado pela força dessas águas!

Sim, é verdade que, para ser um autêntico cristão, muitas vezes a gente precisa nadar contra a correnteza. Viver como os peixes no fenômeno da piracema: subir, mesmo que em sentido contrário ao dos outros, focados no objetivo nobre de gerar vida para o habitat no qual estamos inseridos, ainda que o trajeto seja doloroso e a gente até se sinta correndo riscos... Ousar faz parte da vida!

Me dei conta disso, de forma mais concreta, ao aconselhar um amigo. Ele, que está atravessando problemas na sua vida conjugal, me disse que se sentia um bobo por estar aceitando todas as coisas que a esposa vem fazendo: “Padre, eu não posso mais perdoar. Eu perdoo num dia e no outro ela faz algo parecido, que me fere de novo!” Eu respondi fazendo apenas uma pergunta: “Mas Jesus não nos ensinou que devemos perdoar 70x7; isto é, infinitamente”? Então, ele retrucou: “Parece que eu não me amo, se eu desculpar sempre tudo”. E aí eu disse algo que veio ao meu coração: “É justamente ao contrário: você se ama tanto que sabe o que, de fato, é importante para a sua vida e não abre mão disso”. E essa é uma linda verdade, sabia? Quando a gente ama e reconhece o valor que algo ou alguém tem para a nossa vida, consegue acolher melhor os vacilos dessa pessoa, porque descobre a caridade, que “tudo desculpa” (I Cor 13,7a).

É impressionante a capacidade de superação que vivemos ao olhar para o outro sabendo o lugar que ele ocupa na nossa vida. Se ainda não fez, faça essa experiência! Especialmente ao longo deste ano, em que nossa Arquidiocese nos convida à pratica da caridade, queira exercitar a sua fé. Ela, diante de situações controversas, é capaz de te levar a transcender e viver a dimensão da paciência e respeito ao irmão, como Jesus ensinou, para desculpar os erros do dia a dia.

Nesta semana — quando finalizamos a Quaresma e temos a chance de mergulhar na profundidade e beleza do Tríduo Pascal, para morrendo com Cristo, com ele ressuscitar —, ao prestarmos atenção na liturgia das missas, vamos perceber essa face misericordiosa de Jesus. Ele, para a nossa salvação, desculpou tudo de errado, de pecado, em cada um de nós, simplesmente por reconhecer o quanto somos importantes e amados pelo Pai.

Quando o outro não é alguém a quem somos indiferentes, buscamos compreender até o que pela lógica nem é possível e ainda inventamos motivos que talvez nem existam na cabeça dele para conseguir desculpá-lo... Uma linda face da caridade é querer não ter razão. Eu quero dar às pessoas um lugar especial no coração, para saber desculpar os pequenos erros do dia a dia. E você, aceita esse desafio? ‘Tamu junto!’

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