Por thiago.antunes

Rio - Acertadamente o Museu da Imagem e do Som, através de Rosa e de Raquel, duas queridas que honram o melhor de nossos gestores culturais, marcou uma segunda gravação de depoimento da Diva Montenegro. Diva pé no chão, mas Diva. Ela não quer assim ser chamada, mas Diva não tem que querer. Quem quer é o público, a Nação, nós, mortais. Ela, Deusa.

Pois estávamos todos lá, aguardando a liturgia, solenes porque não é sempre que os Deuses falam, e sabíamos que estaríamos defronte da história, diante da construção do que entendemos hoje por moderno teatro brasileiro. Meus olhos encheram de lágrimas quando ela nos abandonou e voltou, sozinha, para um lugar chamado Fernando em seu íntimo. A Deusa estava só, com seu amor da vida toda. E tributou a ele a sua sobrevivência, o fato de ela estar ali. “Minha aderência, parte de mim,.... amor.”

Ave-Maria, a gravação começou pessoal-pauleira, e depois viria a profissional, tudo embolado; ela marcou o segundo depoimento para deixar impregnada a contribuição do Torres à passagem da nascida Arlete que virou Fernanda. Sobre a formação dos jovens atores, alertou sobre a necessidade de mais estofo intelectual, cultural, clássico, mesmo, naquela conotação boa de que isto não nos limita, isto abrirá as janelas para a percepção da existência.

Da orquestra sinfônica à música caipira, sertaneja, ela insistiu que tudo isto era divino. O que rendeu uma cara hilária de Jaqueline Lawrence, ao lado dela na mesa, que entendeu sertanejo nesta pegada country-brega que tem hoje, o que é realmente bem capenga. Mas aí a estrela explicou que o repentista da feira de Caruaru, na praça a tocar sua viola, isto sim é deslumbrante. Claro que já sabíamos do que Montenegro tratava, mas a gag de Jacqueline era imprescindível para separar o joio do trigo.

Sobre a política cultural, protestos mil sobre quanto vale a cena, destes que ralaram décadas para serem encarados como os ‘globais’ da atualidade, ela incluída! A impressão que ficou é que não é fácil nem para a Diva, que deu uma cutucada nos musicais como recebedores de benesses que são ótimas e que deveriam ser mais bem repartidas, inclusive para o tipo de teatro que ela faz (já fez musicais), que talvez possamos chamar de Teatro da Palavra, do texto sobre as duas pernas do ator.

Ela disse: “A guerra sem pólvora que a luta pela Cultura é!”; “O andar de cima não pode decidir o que o andar de baixo quer ver; eles disseram que a intelectual francesa que agora interpreto sobre o palco não interessava a ninguém de baixa renda, pois digo a vocês que nos debates nas comunidades uma mulher levantou e disse que esta Simone não estava com nada, falava, mas rastejava atrás do tal de Jean Paul Sartre, ela sim é que era guerreira, criava dois filhos e tinha um monte de namorados”.

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