Por bferreira

Rio - Entre 1995 e 2010, 26 jornalistas foram mortos no Brasil. Nos três anos seguintes registraram-se mais 15 assassinatos. Nenhum outro país latino-americano contabilizou tantos óbitos nesse segmento. O dado consta do Relatório Anual sobre Liberdade de Expressão, elaborado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, grupo ligado à Organização dos Estados Americanos. A execução de profissionais da imprensa é o lado mais cruel de uma preocupante onda de rejeição à mídia e outras instituições da democracia, que com frequência se manifesta em intimidações a repórteres, como observado esta semana com Bette Lucchese, da Rede Globo.

Um dos 41 repórteres mortos é Tim Lopes. Outro, que não entrou nesse levantamento da OEA, é o cinegrafista Santiago Andrade. As duas mortes têm muito em comum. Ambos perderam a vida no exercício da profissão e causaram grande comoção. O que talvez não tenha ficado claro — e que precisa ser destacado sempre — é que morreram enquanto cobriam fatos de alto interesse para a sociedade. Tim investigava exploração de menores na Grota pelo tráfico, e Santiago registrava protesto contra o aumento das passagens de ônibus.

Muitos outros jornalistas foram mortos, mas não houve a mesma mobilização, como se fosse normal lhes tirar a vida. O jornalismo não precisa de um ‘espelho, espelho meu’ que o endeuse, como sugerem detratores. Pedir respeito deveria ser desnecessário, pois é prerrogativa de qualquer profissão. Garantir o trabalho de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas é assegurar o direito à liberdade de expressão. Não se indignar com execuções, considerar normal intimidar profissionais ou demonstrar simpatia pelo cerceamento à imprensa é permitir que se afunde o Brasil em nova era de incertezas, ignorância e repressão.

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