Por adriano.araujo

Rio - Quando se perde a esperança, a possibilidade de sonhar se esgota. O desânimo se apossa de nós de forma contundente, e vem a depressão. Vivemos deprimidos, desesperançados. Não adianta olhar para os lados, para os rostos e promessas dos nossos candidatos a presidente e a governador. Eles não podem nos ajudar, eles não nos veem, não estão interessados em nós. Ajuda? Só a eles mesmos, familiares, o partido e os aliados. Nós, o povo, não dançamos essa ciranda, a nossa é outra, é a do pagamento de impostos e a do trabalho suado, que, por ironia, sustenta e os elege. O único momento em que se lembram de nossas existências é em época de eleição. Somos apenas votos, o dedo que aperta o botão numa máquina e que agora protesta. Querem dedos docilizados, obedientes, isso não é possível!

Pensar numa saída que traga mudança é ingenuidade. Não há nada de novo no cenário político. Talvez o novo seja a constatação absurda de que não temos saída. A corrupção é endêmica, cultural. Sejamos sinceros, ninguém quer se eleger para mudar situação nem realidade brasileira alguma. As caras são ávidas por enriquecer. Governar esse país é um problema, muitos disseram que tentaram e não conseguiram, deixaram seus cargos, mas saíram ricos, e a pátria empobrecida — eles desmoralizados.

Esperança só aconteceu quando elegemos Lula para governar o país. Ele era o suposto operário que, sem formação universitária, chegava ao poder depois de experimentarmos presidentes com terceiro grau completo e até com doutorado. Não deu certo. Lula era a bola da vez, a esperança o encarnava em pessoa, era o trabalhador no poder. Alguém que, supostamente, tinha vivido todo o drama dos que saem de casa todos os dias para ganhar a vida. Trabalhou pouco e nos enganou. Trabalhou mais a seu favor e dos seus, do que para o povo e o país, dos quais se dizia tão solidário. Hoje, deve rir de todos nós! Para o povo, pensou o pior castigo e condenação. Sei que alguns não pensam assim, os condenados e resignados à miséria, os realistas, os que não se enganam com a realidade do Brasil. O Bolsa Família continua sendo a sustentação da pobreza, essa pena perpétua que, assim como a seca no Nordeste, não pode acabar, é fonte de renda e promessa antiga do plano de governo de diversos candidatos.

Agora, o medo da denúncia, do desmascaramento e da ridicularização, devida e oportuna, através da mídia, os assusta. É fato novo para eles, essa estratégia de poder popular dispensa o povo nas ruas se arriscando a apanhar. Políticos sempre temeram o povo na rua, agora temem os dedos ágeis nos teclados. Entramos em tecnologia, as relações são virtuais, as informações circulam em tempo ágil. Todos têm voz nas mídias sociais, não precisamos mais das ruas. As passeatas podem ser virtuais e contínuas, sem hora e local marcado. As redes sociais são formadoras de opinião, não há mais embate físico, é virtual. Grita-se e se protesta a qualquer hora do dia ou da noite em casa, na rua, no meio da cidade, na barca, no ônibus, no trem! É o poder dos polegares rápidos nos teclados dos celulares curtindo, compartilhando, comentando... não há censura que dê conta!

Enquanto isso, eles, na arrogância, tentam uma emenda na lei para censurar os protestos e denúncias. Só um porém: imaginem como o nosso Judiciário, já moroso, daria conta da imensa demanda de processos? Um país inteiro processado? E quem fiscalizaria isso? Um novo ministério? Cômico se não fosse trágico! Desastrados não se dão conta, o desejo de proibir funciona, como confissão da verdade que querem esconder e controlar. Ingênuos, mais estimulam a ridicularização, sonham, deliram que enganam com seus ternos e caras de suposta seriedade, voz grossa em contrapartida ao discurso roto.

Fernando Scarpa é psicanalista

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