Rio - A vida digital inverteu a lógica das distâncias. É possível estar perto de alguém do outro lado do mundo? E longe de quem se está abraçado? Sim. A obra apresentada mês passado por Banksy, artista de rua britânico considerado um dos maiores nomes da arte contemporânea, é amarga. Quem não se identifica?
No início do ano, o filme ‘Ela’ foi indicado a oito Oscars contando a história de um homem que se apaixona pela voz feminina de seu sistema operacional. Com ares de futuro não muito distante, a película de Spike Jonze questionava o que é o amor e o que é solidão, em uma cidade em que as pessoas andam conectadas e sozinhas.
Outro dia me dei conta de algo curioso: há algum tempo, minhas melhores ideias vinham aparecendo durante o banho. Depois de pouco pensar, me dei conta de que esse era o único momento do meu dia em que não estava conectado a nada. Qualquer silêncio, qualquer tédio, qualquer ócio, eu trocava por uma olhadinha no celular, no computador... Afinal, vai que alguém comentou, postou ou gostou de algo que fiz? Comecei, então, a regular mais o uso do celular. Solidão desconectada é importante para nos reconectar a nós mesmos e também aos outros.
Um amigo me contou de uma cena que viu da janela: uma vizinha com um pote de amendoim e cervejas serviu cuidadosamente tudo sobre a mesa da varanda. Depois disso, pegou o celular, sorriu para o aparelho, tirou um selfie e pronto. Desfez a mesa, voltou com tudo para dentro de casa, sem tomar nenhum gole sequer daquela felicidade toda. Pronto: tínhamos mais uma vida linda no Instagram. Em nome de uma suposta coletividade, nos tornamos mais sozinhos, fazendo um movimento contrário ao que pode nos tornar mais verdadeiramente realizados e saudáveis.
Não nos enganemos: as tecnologias digitais, em si, não são boas, nem ruins. Quem define isso são as nossas atitudes diante delas. Ter a possibilidade de encurtar distâncias é algo tão maravilhoso como voar, e as formas das relações humanas mudam conforme as tecnologias surgem. Estamos vendo os seres humanos criarem novas formas de se organizar, de demandar serviços mais personalizados e eficientes para atender às suas necessidades, e tudo isso é bom. Mas as pergunta que ficam são: e você, como você usa a tecnologia que está na sua mão? Ela está te levando para mais perto ou mais longe do que te faz feliz?
Bruno Maia é sócio da agência conteúdo estratégico 14