Por bferreira

Rio - Temos vivenciado nos últimos tempos, no Brasil e no mundo, uma crise de representatividade. Cada vez mais cidadãos estão desconfiados das instituições. Os parlamentos, os governos, os sistemas de justiça, os partidos e os políticos perdem credibilidade e não encontram o caminho para recuperá-la.
As manifestações de junho de 2013 expuseram de forma contundente a insatisfação dos cidadãos, cuja mais célebre expressão foi o grito de “sem partido”. Agora em 2014, novas manifestações sociais colocam em questão outra importante instituição do sistema representativo, o sindicato.

A greve dos garis em março e as dos rodoviários do Rio de São Paulo em maio foram realizadas à revelia dos sindicatos que representam essas categorias profissionais. Na verdade, mais do que à revelia, em oposição. Os líderes sindicais estão perdendo o controle sobre suas bases, ou seja, estão perdendo representatividade.

Com relação aos partidos, a despeito das críticas que recebem, podemos apontar diversas reformas políticas que os impactaram positivamente, como o direito de voto aos analfabetos, as eleições diretas para governador e presidente, as leis contra corrupção eleitoral e a da ficha limpa. O atual sistema partidário é o mais longevo e representativo que já tivemos, e os partidos são importantes atores na disputa política.

Por outro lado, a organização sindical no Brasil praticamente parou no tempo. Desde a Consolidação das Leis do Trabalho, em 1943, a única mudança significativa que aconteceu foi o reconhecimento legal das centrais sindicais. Os sindicatos continuam a monopolizar a representação dos trabalhadores por categoria profissional e base territorial e a receber os recursos do imposto sindical, independentemente da quantidade de trabalhadores filiados.

Além disso, nós conhecemos os casos de violência que permeiam as disputas pelo controle dos sindicatos no Brasil. Muitas vezes as eleições acabam em agressões físicas, motivadas pelo desejo de controlar os recursos políticos e econômicos concentrados nas organizações sindicais. Todas recebem recursos públicos oriundos do imposto sindical e são representantes legais dos trabalhadores nas negociações com os patrões.

Diante da ausência de mudanças na estrutura e na prática sindical e da falta de perspectivas de que essas mudanças possam ocorrer no curto ou médio prazo, o que devemos esperar é cada vez mais greves deflagradas em meio a um conflito aberto entre as bases e os líderes sindicais.

José Paulo Martins Junior Cientista político e professor da Unirio

Você pode gostar