Por bferreira

Rio - As manifestações anti-Copa são absolutamente legítimas. Tem sido assim em quase todos os países que se propõem a promover a mais importante competição do futebol mundial. Movimentos sociais, sindicatos e partidos de oposição acabam se unindo para protestar contra os gastos, alegando sempre outras prioridades. Mas no Brasil as manifestações já exacerbam até para um antinacionalismo irracional que assusta.

Em São Paulo, um grupo anti-Copa radicalizou a ponto de atear fogo à bandeira nacional. Qual é o significado disso? Ao longo das nossas lutas históricas contra os golpismos e as ditaduras instaladas, nos acostumamos com bandeiras estadunidenses incineradas nos protestos de rua. O gesto, porém, nunca foi contra a pátria dos norte-americanos, mas em repúdio à opressão econômica e militar do governo estrangeiro à soberania do nosso país.

Não faltam motivos para protestar. Afinal, o Brasil é ainda um país muito desigual. As oportunidades e os salários de brancos e negros ainda são discrepantes. As escolas públicas (e também privadas) são deficientes no ensino e ainda remuneram muito mal os professores. Nos hospitais públicos (e também privados), as filas de espera ameaçam vidas e tiram qualquer um do sério.

Mas o que mudaria sem os gastos com a Copa? Os R$ 5,8 bi arcados diretamente pelo governo federal equivalem, por exemplo, a 9% das despesas anuais com Educação. Sendo que, do montante empregado, quase a metade (R$ 2,7 bi) foi com ampliação e modernização de aeroportos; R$ 1,9 bi com segurança pública, para equipar as polícias estaduais; R$ 600 milhões em portos; R$ 400 milhões em telecomunicações, e R$ 200 milhões em outras iniciativas. Todos, legados para a população.

Como já dissemos, são legítimos os protestos que denunciam não somente os altos gastos de dinheiro público com as obras, sobretudo de estádios (Maracanã, Mineirão e Mané Garrincha principalmente), mas também a péssima qualidade da Educação e o humilhante serviço de saúde, condições que se devem fundamentalmente à corrupção que os precariza desde sempre.

Protestos por melhores condições de vida do povo brasileiro, independentemente de governos, partidos e Copa do Mundo, devem fazer parte de uma agenda permanente das ruas. O que não podemos aceitar é que esse debate se mantenha contaminado pela luta política dos que, de olho na eleição, querem impor a linha do ‘quanto pior, melhor’. O povo mesmo quer Copa, Saúde e Educação.

Edmilson Valentim é ex-deputado pelo PCdoB

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