Rio - Num país marcado por contrastes, a Seleção inicia hoje, contra a Croácia, às 17h, no Itaquerão, em São Paulo, a busca pelo Hexa. Para quem não queria a Copa, tempo esgotado, a bola vai rolar. Aos que sempre a desejaram, o cronômetro começa a correr. Nesse ‘Brasil x Argentina’ ideológico, a festa nas ruas e a confraternização entre brasileiros e gringos indicam que não a Fifa, mas o futebol, maior patrimônio cultural dessa terra partida, sai na frente.
Encravado no humilde bairro de Itaquera, mas com o custo superior a R$ 1 bilhão, o palco da abertura da Copa é retrato do Brasil. País onde Educação, Saúde e segurança pública não são compatíveis com o bilhões investidos a perder de vista para o evento ‘padrão Fifa’. No choque entre a realidade cotidiana e o circo da competição, a faísca parece inevitável.
No entanto, se o lucro é da entidade sediada na Suíça, o futebol pertence ao povo. A alegria e a hospitalidade do brasileiro são inegociáveis. Não se compra identidade. E na do Brasil, o retrato 3 x 4 tem uma bola de futebol na cabeça. Porém, mesmo que não percebam, estarão todos representados, pelos improvisos de Neymar, na simplicidade de um gol de Fred ou pela garra de Paulinho.
Os que se deixam contagiar têm missão tão nobre quanto a dos que entram em campo: mostrar que, em solo tão fértil, de onde brota toda sorte de contradições, é possível congelar durante uma disputa de pênalti, abraçar o desconhecido ao lado no estufar das redes, comemorar o título ou chorar outra tragédia, 64 anos depois do Maracanazo, sem se alienar. Não do jeito que todos sonhavam, o Mundial começa entre a tensão e a euforia. Mas com o despertar do povo, a chama do debate e a politização dos papos de botequim postos à mesa. Haverá Copa e revolta; choro e alegria. E se tiver Hexa, folia fora de época.