Por felipe.martins

Rio - Teresópolis ou Terezópolis? Responda de imediato, por favor. Se você for do Estado do Rio, respondeu TereSópolis; se de Goiás, TereZópolis. Porque as muitas placas de sinalização nas duas cidades e nos seus acessos ora apresentam o S, ora o Z. E isso acontece porque as duas letras representam o mesmo som de Z, e não há uma regra clara para escolher uma delas. A letra X também representa o som de Z em exame e exonerar. Quem está aprendendo a escrever não entende por que e quando se usa uma ou outra letra.

Responda você o motivo de três letras para representar o mesmo som de Z: fuso, fuzo, fúsil, fuzil, laser, lazer, casar, bazar, exumar... Mesmo que o professor se desdobre para arranjar uma explicação para cada caso, o aprendiz, quer brasileiro ou estrangeiro, se sente perdido, confuso, desanimado... e o pior: conclui que apreender português é muito difícil, que nada tem lógica etc.

Perto de Natal (RN), no caminho e nas adjacências de uma bela praia, muitas placas apresentam a grafia Genipabu, e várias outras, Jenipabu. Nem as autoridades sabem, portanto, usar G ou J, porque antes de E ou I as duas letras representam o mesmo som. Há uma regra dizendo que palavras de origem indígena, árabe ou africana se escrevem com J, mas ninguém está preparado para usá-la, porque já não se ensinam mais origens e radicais. Seja sincero. Você é capaz de saber todas as palavras de origem africana, indígena e árabe? Então essa regra não serve. O iniciante mais uma vez se frustra e acaba deixando de lado o estudo da grafia, ampliando sua dificuldade de escrever e ler. O mesmo acontece com o uso de outras letras e do hífen.

Do Fundamental ao Médio gastam-se 400 horas-aula com ortografia, para decorar muito e aprender quase nada. É nesse interregno que nasce o desânimo e a crença de que português é muito difícil, criando o bloqueio gerador do analfabetismo funcional e causador do fato de que apenas 20% da população pode ser considerada plenamente alfabetizada.

Quando algumas dessas regras forem simplificadas, haverá uma economia de tempo (250 horas-aula) e dinheiro (R$ 2 bilhões por ano) e um aprendizado mais eficaz e prazeroso. Pode-se prever uma forte redução nos índices de analfabetismo e na taxa de rejeição ao estudo da língua, simultaneamente fortalecendo a inclusão social. E mais: a quantidade de cidadãos plenamente alfabetizados (capazes de ler e produzir textos mais profundos) pode ser multiplicada por dois, três, quatro ou cinco.

Isso significa dizer que na mesma proporção crescerá o número de leitores e autores, permitindo uma produção literária, intelectual e científica jamais vista, criando saber e riqueza suficientes para colocar estrategicamente nossos povos e países em estágio muito superior de respeito e influência internacionais.

Ernani Pimentel é professor e presidente do Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa

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