Por bferreira

Rio - É evidente existir um descompasso emocional na Seleção. Porém, isso não pode ser usado para distorcer outra realidade: a falta de planejamento e de preparo e a existência de dificuldade técnicas e físicas no elenco. Ademais, parece que a comissão técnica perdeu o controle sobre a equipe e demonstra nervosismo. O que chama atenção também é que os jogadores, nas entrevistas à mídia, contestam haver problemas psicológicos. Ora, negar o óbvio é um sintoma evidente de conflito. Algo acontece nos meandros do grupo.

São vários os fatores que afetam o aspecto emocional dos atletas. Seria muito simplista considerar apenas o fato de estar jogando em casa, embora isso possa ter um peso pequeno. O espírito de “guerra”, termo usado em entrevistas pelo treinador Luiz Felipe Scolari, reflete o ambiente da Seleção: um clima tenso, em que os jogadores vão para uma batalha, e não para um jogo de futebol. Essa pressão é muito maior do que jogar em casa. Haja vista que cantar o Hino Nacional a capela no estádio é bonito, emociona, mas efusivamente pode significar agressividade e nervosismo. A torcida brasileira, nesse aspecto, parece reforçar as emoções mais afloradas.

O choro, genericamente, pode prejudicar ou não. Depende qual o motivo e com quais motivações se chora. As lágrimas podem ser um sinal tanto de responsabilidade excessiva e extravasamento ou de fraqueza emocional e desequilíbrio. Aquela velha máxima sempre vale para situações assim: “Chorar faz bem, mas em excesso é prejudicial”. Nesse sentido, todo o clima emotivo criado naquele momento difícil contra o Chile nas oitavas poderia até unir mais o time e lhe dar força, mas é pouco provável que tenha sido isso o que ocorreu. Embora o time tenha vencido nos pênaltis, o preço pago pelos jogadores para se chegar a essa conquista foi muito alto.

Além disso, ficou visível o descontrole de alguns jogadores, principalmente do capitão Thiago Silva, que permaneceu sentado na bola, chorando copiosamente, ignorando os pênaltis. O que se esperava dele pelo posto que ocupa? Liderança, força e confiança, o que não aconteceu. O pranto de Neymar ao fim do jogo, ajoelhado e em prantos, também chamou a atenção. E, por fim, o goleiro Julio Cesar chora por causa de uma culpa enorme que assume, e que não é dele, por conta de o Brasil ter sido desclassificado pela Holanda em 2010. O time já havia demonstrado instabilidade emocional em outras partidas antes de pegar o Chile e demonstra sofrimento ao jogar.

Nesse contexto, a psicóloga da Seleção, Regina Brandão, pode conversar em particular com alguns jogadores, principalmente aqueles que demonstram mais instabilidade emocional, e buscar integrar o grupo, fazendo com que outros atletas, mais seguros, tenham maior aproximação com aqueles que estão mais vulneráveis. Deve, ainda, conversar com a comissão técnica no sentido de buscar clarificar pontos a ser trabalhados com o grupo. Os problemas e dificuldades precisam ser expostos, e tudo deve ser falado objetivamente. A esta altura do campeonato, nada pode ser omitido.

Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina

Você pode gostar