Por bferreira

Rio - Alianças estapafúrdias não são novidade na política brasileira. Um marco na nossa história recente foi que a levou à união entre o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e o PFL de Antonio Carlos Magalhães, acordo que viabilizou a eleição do tucano para a Presidência. Na mesma linha, o PT se transformaria em amigo de infância de José Sarney, Jader Barbalho e Fernando Collor de Melo.

Tais conchavos são sempre justificados pela necessidade de união contra um inimigo comum ou pela importância de se conquistar uma base de apoio no Congresso. Até aí, tudo bem, arranjos são necessários no mundo todo. O problema são as bases de negociação. É razoável que, interessado no apoio de um partido conservador, um governo de esquerda aceite diminuir impostos. Ou o contrário: governante de direita pode assumir posições mais progressistas ao buscar uma maioria não obtida nas urnas.

O grave é que nada disso é seguido por aqui. Nunca ouvi dizer que o partido X ganharia o ministério Y para implantar determinada política pública. O negócio é mais simples (e, friso, não começou no governo petista): o partido X ganha o ministério Y em troca de votos no Congresso. O ministério garantirá empregos, prestígio e sabe-se lá mais o quê: num ato de supremo sincericídio, Severino Cavalcanti, então presidente da Câmara, cobrou o direito de indicar, para a Petrobras, alguém para “a diretoria que fura poço e acha petróleo”.

Acordos recentes assustariam os mais carniceiros promotores de rinhas de MMA. Vale-tudo é pouco para obter apoios e garantir tempo no horário eleitoral da TV — o benefício, bancado com dinheiro público, foi criado para democratizar a informação política, mas transformou-se em valiosa moeda de troca. Assim, adversários se tornam amigos, xingamentos trocados são esquecidos, o sujeito que era chamado de ladrão passa a ser designado de valoroso homem público.

Em meio a surubas e bacanais — para citar definições utilizadas recentemente —, mais pessoas, a cada eleição, não aparecem para votar, pesquisas indicam que o voto nulo deve crescer muito em outubro. Políticos esquecem que o limite da farra é a ressaca que marca o descrédito na lógica representativa. Ao decretarem a ausência de limites para a orgia, atuam como black blocs, aqueles que depredam bancos e prédios públicos para mostrar oposição ao poder e ao capitalismo. Os mascarados atacam alvos físicos, recuperáveis; políticos, com suas joelhadas no sistema institucional, ferem de maneira grave a estrutura que sustenta a nossa democracia.

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