Por bferreira

Rio - A crise econômica da Argentina que hoje assusta os vizinhos latino-americanos também provoca prejuízos ao Brasil. Segundo levantamento feito pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) a pedido do iG, a redução nas exportações chegou a 20% no primeiro semestre, ou a US$ 1,9 bilhão (R$ 4,18 bilhões). O saldo comercial entre os dois países, até junho, ainda é positivo para o Brasil — mas está menor em 26,5% frente ao primeiro semestre de 2013.

A inflação alta, o crescimento econômico baixo e o avanço do desemprego resultaram em uma queda geral de consumo no país vizinho. O mercado mais afetado é o de automóveis, que representa 19% das exportações brasileiras para a Argentina.

No primeiro semestre, segundo número da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a queda nas vendas para o exterior foi de 23,1%. O setor de autopeças, que compôs 9,6% das exportações ao país até junho, vendeu 17,34% menos.

Vice-presidente executivo da AEB, Fábio Martins diz que, por ser o terceiro maior mercado consumidor do país, é natural que a Argentina contamine a economia brasileira com seu problema interno. “O mercado nacional está muito lento e não temos competitividade para atender outros mais dinâmicos, como o asiático e o norte-americano”, explica.

O que não é tão natural é o nível de dependência entre as duas economias. O Mercosul tem sido apontado como uma âncora para o comércio exterior nacional — a parceria com a Argentina, um peso ainda mais difícil de carregar. “O bloco não tem crescido e o Brasil está perdendo acordos comerciais e oportunidades com outros países por não conseguir acordo com os pares. O Mercosul tem amarrado o Brasil”, aponta Martins.

Luiz Moan, presidente da Anfavea, não vê prejuízo em carregar a Argentina a tira-colo para as negociações internacionais. Mais que isso, o setor optou por refazer o acordo automotivo, ressaltando que as economias se complementam e aumentando o compromisso conjunto dos dois países.

Setor automobilístico mantém acordo bilateral

As importações de produtos argentinos pelo Brasil também caíram de US$ 8,7 bilhões (R$ 19,14 bi) para US$ 7 bilhões (R$ 15,4 bi), fruto da redução na produtividade no país vizinho. A queda também se deve pelo acordo de integração produtiva da indústria automotiva. Este estabeleceu cota de exportação para os dois países. Para cada carro exportado, cada um dos países deve importar 1,5 veículo.

“O que nós realmente precisamos é aprofundar os ganhos de competitividade para exportar mais”, aponta Luiz Moan, presidente da Anfavea. Ele já espera uma melhora para a economia argentina no segundo semestre. Romper com a parceria está fora de cogitação.

“Essa integração é fundamental para manutenção dos nossos mercados”, destaca Moan. “Agora temos o objetivo de estimular o crescimento do setor de autopeças e buscar, juntos, outros mercados possíveis.” As próximas negociações, com México e Colômbia, serão feitas de mãos dadas com os hermanos.

Fabricante de calçados sofre

Enquanto o setor automotivo estreita os nós com a Argentina, a indústria calçadista anda querendo distância do país vizinho. Há um ano e meio o ramo enfrenta problemas com a Declaração Jurada Antecipada de Importação (Djai) — que funciona como autorização legal para a entrada de produtos no país.

No ano passado, um milhão de calçados previamente encomendado pelos importadores ficou preso no Brasil por não conseguir as Djais para entrar na Argentina. “A questão foi resolvida pelo cansaço”, diz Heitor Klein, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). “Até agora há mercadorias dependendo da licença para embarcar.”

Mesmo que haja demanda e Djai, ainda há um outro empecilho: a operação financeira. O importador tem de depositar o pagamento em um banco local para que seja emitida uma ordem de pagamento para um banco brasileiro. Sob fiscalização da autoridade monetária argentina, Klein teme que as remessas sejam bloqueadas. “Eles são muito hábeis em encontrar justificativas”, reclama.

Com isso, a recomendação da associação tem sido taxativa. “Estamos sugerindo que as empresas não fechem contratos com nenhum importador argentino”, conta.

A Argentina já foi o segundo maior mercado para o setor, hoje os vizinhos estão na sétima posição entre os principais compradores.

Reportagem de Bárbara Ladeia

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