Por bferreira

Rio - Não há estimativas oficiais sobre o número de pessoas com autismo no Brasil, mas organizações acreditam haver em torno de dois milhões de pessoas com o transtorno. De acordo com relatório de março deste ano do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, uma a cada 68 crianças em idade escolar é autista. Calcula-se que 1% da população mundial tenha algum grau do transtorno, o que demonstra a importância de se aumentar a conscientização sobre o tema.

Só no Rio de Janeiro, acredita-se que existam 180 mil famílias com pessoas autistas, e a maioria delas não recebe o tratamento adequado. O autismo é um transtorno de desenvolvimento que pode ser detectado até os primeiros três anos da criança, caracterizado por dificuldades sociais, de aprendizado e comunicação, cuja intensidade pode variar – o chamado espectro autista. É preciso capacitar os profissionais da saúde para chegar a um diagnóstico preciso e de forma precoce, que auxilie essas pessoas a levarem uma vida o mais perto da normal. As causas do autismo ainda são desconhecidas, mas estudos recentes apontam que seja uma combinação complexa de fatores genéticos e ambientais.

O olhar governamental sobre o tema é muito recente. Em 2012, a lei estadual 6.169 determinou a criação de dez centros de tratamento para o transtorno, que infelizmente ainda não saíram do papel e seriam um grande passo para democratizar o atendimento especializado. Em 2013, o Ministério da Saúde lançou, no dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, a primeira política de saúde voltada ao tema. O documento traz indicadores do desenvolvimento infantil e quais os sinais de alerta de comportamento autista em bebês e crianças. Em março de 2014, foi sancionada pelo governo do Rio de Janeiro a Lei 6.708, que obriga as escolas públicas e particulares a reservar duas vagas para alunos com diagnóstico, de modo a permitir o acesso à educação e ampliar a inclusão dessas crianças.

O tratamento é multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, profissionais de educação física, psiquiatras e neuropediatras, e preferencialmente deve se adequar a cada criança, o que representa um grande desafio na saúde pública. As leis recentes podem ser consideradas um avanço, uma vez que incentivam o debate sobre o tema, mas ainda carecemos no país de ações mais efetivas em relação ao preparo dos profissionais. Há poucos pediatras, por exemplo, capacitados a identificar a síndrome pela avaliação comportamental. É muito comum que o autismo seja confundido com outros transtornos, e até com surdez. Investir na sensibilização dos profissionais de saúde, promover o diagnóstico precoce e ampliar o atendimento a quem precisa são as principais ferramentas disponíveis para dar aos autistas uma melhor qualidade de vida.

Leslie Aloan é cardiologista, presidente do Instituto Nacional de Assistência à Saúde e à Educação (Inase)

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