Por felipe.martins

Rio - Diante do episódio envolvendo o sindicato, ONGs e pessoas ligadas a manifestantes processados por vandalismo, jornalistas do Rio de Janeiro estão criando um fato político inusitado. Ao pressionarem pelo afastamento da diretoria da entidade antes do término do seu mandato, deram um passo em falso no caminho do autoritarismo. Sem entrar no mérito sobre a maneira como o sindicato vem conduzindo suas ações em relação às manifestações de rua, o fato novo é esse tiro no pé da própria categoria. Uma das alegações desses jornalistas é a de que o sindicato não os representa, apesar de a diretoria ter sido eleita dentro dos padrões democráticos.

É como se amanhã exigíssemos o impeachment do futuro governante do país porque ele não foi eleito com o nosso voto. Aproveitam o ambiente comunicacional muitas vezes maniqueísta das redes sociais para tentar impor suas opiniões na marra. No reducionismo do “ou isso ou aquilo” da discussão irrefletida, jogam no lixo a possível convergência dos valores republicanos e liberais que consagraram a democracia em vários países ocidentais nos últimos dois séculos. Esquecem que clamores de supostos consensos também subsidiaram o golpe de 1964.

Movimento surpreendente, sem dúvida, pois não se tem notícia de irregularidade cometida pela diretoria do sindicato. Por que então ela deveria ser afastada antes do término do mandato? O que se costuma chamar de categoria dos jornalistas é uma massa amorfa, altamente fragmentada em termos culturais, ideológicos, políticos e salariais. Nas últimas duas décadas os jornalistas abandonaram o sindicato num contexto neoliberal de desqualificação de qualquer tipo de sindicalismo.

Intitulando-se de forma estratificada como “investigativos”, “profissionais de redação”, “assessores de imprensa”, “free-lancers” etc., alguns defendem, por exemplo, a criação de sindicatos diferentes para profissionais dos grandes meios de comunicação e das assessorias de imprensa.

Apesar do clamor nas redes sociais, como se fosse a voz de uma categoria unida e traída, muitos (se não a maioria) sequer são sindicalizados ou, quando são, nem pagam as mensalidades da entidade. Tampouco comparecem às assembleias da categoria. Talvez nem saibam onde fica o sindicato. Em termos republicanos, como jornalistas e cidadãos, estão dando péssimo exemplo para os seus próprios filhos e para os novos jornalistas.

Álvaro Miranda é jornalista

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