Por felipe.martins

Rio - Classificar como golpe a mobilização de oitocentos e cinquenta jornalistas profissionais num abaixo-assinado é, antes de apelativo, equivocado. As assinaturas pedem a renúncia da atual diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. Quem subscreveu o manifesto entendeu que o posicionamento do sindicato em relação a agressões sofridas por jornalistas durante a cobertura de manifestações ou protestos varia de acordo com quem bate. Pedir não é impor ou determinar. Golpe pressupõe destituir alguém do poder de maneira violenta ou com a conivência de alguém do outro lado. O que não ocorre no movimento.

O SJPMRJ se mostrou crítico implacável quando jornalistas eram agredidos por policiais militares. Isso é importante frisar. A polícia teve algumas atuações desastrosas. A mais recente delas no dia 13, na Saens Peña. E o sindicato cobrou, com razão.

No entanto, o ímpeto nas cobranças quando as agressões partiam de manifestantes não era o mesmo. Aliás, quem acessa o site do SJPMRJ até sabe que o repórter cinematográfico Santiago Andrade foi morto por um rojão. Mas não há sequer uma linha que cite que o nome dos dois envolvidos, Caio de Souza e Fábio Barbosa, que confessaram o crime. Para o sindicato, são considerados ‘presos políticos’. Por quê?

Não bastasse isso, a presidenta do SJPMRJ chegou a participar de um julgamento simulado dos autores do crime, uma encenação dedicada a diminuir a responsabilidade de réus confessos e a reafirmar a condenação do trabalho da imprensa. Para a diretoria do sindicato, vivemos numa ditadura, num Estado de Exceção.

O trecho de nota do SJPMRJ com o título “Jornalistas agredidos podem reivindicar na Justiça indenização contra Estado” demonstra, por exemplo, seus pesos e medidas: “Já são 77 profissionais agredidos e/ou ameaçados na cidade em mais de 90 casos desde maio do ano passado. Um deles morreu. Os jornalistas que constam no relatório por terem sofrido violência policial durante coberturas na rua podem acionar o Sindicato para saber como ingressar com uma ação para reivindicar indenização ao Estado’. Em qual trecho da nota se explica que o profissional morto é o que foi atingido pelo rojão lançado por manifestantes?

Por um sindicato que não diferencie agressões sofridas por seus profissionais na rua. E que não chame a imprensa de mídia. Trabalhar não é crime!

Bruno Quintella é jornalista


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