Por bferreira

Rio - Mais de 70 anos se passaram desde a formulação da teoria sociológica do comportamento eleitoral que defende a noção de que existe uma associação entre características socioeconômicas dos eleitores e o voto. Para os autores da chamada teoria sociológica, a decisão eleitoral é uma experiência de grupo e que os semelhantes tendem a votar da mesma forma.

As sociedades mudaram e a teoria sociológica já não tem a mesma força, tendo sido superada por outras abordagens. Ainda assim, é possível perceber que ela pode ser útil para compreender parte significativa da decisão de voto. As características mais relevantes para o voto na abordagem sociológica são o nível socioeconômico, o local de moradia e a religião. A última é a mais importante no momento atual, sob o meu ponto de vista. No Brasil, assim como nos EUA, existem conexões entre religião e partidos. Lá, os católicos sempre foram majoritariamente democratas, enquanto que aqui, grupos católicos, como as comunidades eclesiais de base e as pastorais da terra, estiveram envolvidos na criação do PT.

Nem sempre a religião é importante em uma eleição majoritária. O peso de certas características fica latente até ser ativada por algum candidato. Nas eleições presidenciais de 2002, Anthony Garotinho foi identificado como um candidato do eleitorado evangélico. De fato, dados de pesquisas de opinião indicavam que a probabilidade de votar nele aumentava entre os evangélicos enquanto que a probabilidade de votar em Lula e em Serra aumentava entre os católicos. Em 2014 teremos um candidato presidencial, o Pastor Everaldo, e dois candidatos a governador do Rio de Janeiro, Crivella e Garotinho, identificados com o eleitorado evangélico. Isso ativará a dimensão religiosa na disputa majoritária. Sabemos que os não católicos ainda são minoria no Brasil e que as chances de alguém ser eleito contando somente com os votos desse eleitorado são nulas.

Não obstante, em uma disputa equilibrada, esses candidatos e o seu eleitorado podem ser decisivos para a realização de um segundo turno ou podem se tornar os fiéis da balança a pender para o lado vitorioso. De qualquer forma, podemos ter certeza de que a religião terá uma importância maior do que em qualquer uma das eleições anteriores.

José Paulo Martins é coordenador do curso de Ciência Política da Unirio

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