Rio - Qualquer análise pontual do Oriente Médio pode cair na superficialidade se considerada de maneira isolada da totalidade. As políticas que agitam o mundo árabe estão combinadas e têm objetivo estratégico do agente estadunidense.
Julho deste ano foi marcado pelo início dos bombardeios promovidos por Israel, armado e financiado pelos Estados Unidos, contra a Faixa de Gaza, caracterizando um dos mais brutais genocídios na Palestina. Foram massacrados 2.170 palestinos até a aprovação do cessar-fogo nesta terça-feira. Na mesma época, um violento conflito já assassinou milhares no Iraque, apesar de uma visibilidade bem mais tímida.
O grupo jihadista sunita ISIS (Estado Islâmico da Síria e do Iraque), que protagoniza a violência do conflito no Iraque e em parte do Líbano, vem se fortalecendo desde 2011 na revolta em oposição ao governo de Bashar Al-assad na Síria, onde tomou diversas cidades. Recente divulgação de documentos do wikileaks comprova relação dos estadunidenses e seus aliados no oriente médio, como Arábia Saudita, Qatar e Israel, com o armamento e alocação de lideranças do Estado Islâmico.
No Iraque, a manobra dos EUA se realiza de maneira complexa. A saber, o país é composto por cerca de 70% da população xiita e com minorias sunita e curda. A última escalada de ações dos estadunidenses alcançou um nível esquizofrênico: armou o ISIS; bombardeou-o quando alcançavam a fronteira do Curdistão; armou os Peshmergas (exército curdo); trocou o primeiro-ministro xiita. Documentos divulgados esta semana pelo wikileaks provaram a relação entre o líder do ISIS, Baghdadi, o Mossad (Serviço Secreto Israelense) e a CIA. Essa política de “bate e assopra” tem por perspectiva política livrar-se de culpas e catalisar o já latente conflito étnico e religioso da região.
Com um olhar mais atento, observa-se que a preocupação com o avanço do ISIS ao território curdo embasa também um dos fatores de motivação do atual bombardeio genocida em Gaza. No fim de 2010, foi descoberto o “mais proeminente terreno de gás natural já encontrado na Bacia do leste Mediterrâneo” e estaria localizado “nas costas de Israel”. O problema é que a maior concentração do recurso da “costa de Israel” está na verdade situada na Faixa de Gaza.
A tática dos Estados Unidos e do Estado sionista de Israel faz o jogo de destruição sem sujar as mãos: armam grupos inimigos do Oriente Médio, falsificam lideranças e assistem de longe aos massacres levarem à frente seus planos de dominação. Qualquer desvio é imediatamente contido com a desculpa de “intervenção humanitária”.
Poderíamos, a partir disso, analisar a questão do Oriente Médio com centralidade no petróleo. Seríamos, entretanto, levianos. A questão radical, no sentido daquilo que vai à raiz, não se encerra na superficialidade de uma das commodities mundial. A raiz desses conflitos é a relação de um mundo estruturado pelo capitalismo e os interesses que nele são criados e sustentados, transformando vidas humanas em nada mais que “danos colaterais”.
Lara Sartorio é cientista política graduada na Unirio e jornalista independente na Cisjordânia