Rio - Restaurante cheio, mesas próximas, escuto a madame, voz de asco, rejeitando o garçom:
— Molho Barbecue, não! Tenho alergia.
A minha primeira reação foi preconceituosa, “coisa de rico. Pobre só tem alergia a fome”. Depois culpei a globalização. Saudosista, o retrogosto me trouxe ao sabor das festas de casamento da juventude. Num pratinho laminado, maionese caseira, pernil, farofa e molho a campanha, aquele que azeda por conta do pimentão verde. Aliás, nessa época, ainda não existiam outras cores pra ácida fruta,amarelo, vermelho, desses gigantes da Cobal do Leblon. Outra novidade é por mel nos queijos exóticos, mas isso é receita pra uma próxima crônica.
Na verdade o mundo moderno, pelo menos no planetaBrasil, renasce em hábitos comuns entre os yankees do consumo após uma roupagem new order, a chamada repaginada, transformando em coqueluche do momento. Longe de ser uma tosse com guincho, infecciosa, no trato da moda que também contagia. É o boné de beisebol na testa do flanelinha, destaque pra aba de Golias, personagem em preto e branco.
Outro dia, tarde de vinhos tintos, escuto um casal entre brindes:
— Gostei mais dessa garrafa. Uma uva mais incorporada...
Meu amigo e parceiro dessa página às segundasfeiras, Fernando Molica, me convenceu da possibilidade da vinícola pertencer a um Pai de Santo Cabernet de safras antepassadas, um Doutor Fritz psicografando safras e cortes varietais.
Já não somos alface e tomate. A endívia, consumida desde os tempos de Nero, O Acesinho, hoje divide a fama com a chicória de subúrbio, um pé de luxo na saladinha do prato feito. Sem contar a lichia, fruta com forma de ouriço, encontrada no meio fio de qualquer rua da China, adaptado aos regimes tupiniquins.
Parece que ouço na feira da esquina:
— Olha a lichia! Moça bonita, nãopaga.
Balcão apertado, o vizinho comenta:
— Detesto carpete!
— Eu também! Ácaros?
— Não. Muito mal passado! Ainda vem cheio de alpargatas, salgadas. Não engulo!
Saudade que me deu do vermelhão, o assoalho da minha infância.
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