Por bferreira

Rio - Programas de governo de candidatos à Presidência são documentos imbuídos de uma liturgia ímpar. Precisam resumir o pensamento do postulante, determinar o que será feito e dirimir dúvidas acerca das intenções, crenças e alianças que alicerçam a chapa. Um programa deve ser a Constituição do candidato, sua Carta Magna, o alto-relevo da razão de ser do presidenciável. Espera-se ter sido gestado com tempo suficiente para estudos, análises, críticas e objetivos — não é, em absoluto, manifesto de uma lauda tirado de um mimeógrafo. A carta-compromisso da ex-senadora e candidata Marina Silva foi alterada nos últimos dias. Não se trata de correções de vírgula ou hífen nem de ajustes de vocabulário. Foram mudanças profundas que praticamente dão novas diretrizes a temas sensíveis a boa parte da sociedade.

Causa apreensão saber que há versões tão distintas, quase díspares, de um documento em que muitas pessoas decidiram confiar como base para melhorar o país. Embora seja legítimo a candidata editar seus preceitos, é moralmente questionável. É praticamente uma quebra de contrato que lança muitas interrogações. O que de fato está valendo? Como garantir que essa volatilidade não é um indício de um cheque em branco a resgatar no 1º de janeiro?

Frisa-se que, por hora, não se está fazendo juízo de valor do conteúdo alterado — temas caros à causa LGBT e aos direitos humanos, que merecem debate posterior. É prudente, no momento, ater-se às motivações, e aí encontra-se nova inconsistência. Está nítido que a adequação do programa de governo atende a conveniências de chapa, num movimento inequívoco da “velha política” que alegadamente se tenta combater.

A campanha está no auge, e há tempo de sobra para esclarecer esses pontos e provar maturidade — qualidade indispensável a quem pretende concorrer a qualquer cargo público, sobretudo a Presidência.

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