Por bferreira

Rio - Quarta-feira, véspera do 13º aniversário do 11 de Setembro, Barack Obama se dirigiu aos norte-americanos em cadeia de televisão para afirmar que atacará o Estado Islâmico numa “coalizão de forças do Ocidente”. A dissidência da Al-Qaeda que se fortaleceu na Síria e já toma boa parte do Iraque de fato representa ameaça que precisa ser contida — ninguém pode achar civilizado decapitar jornalistas, exibindo o feito pela internet, ou escravizar crianças. Contudo, cabe lembrar que as nações que compõem a Otan são afeitas a guerras e nelas veem oportunidades das mais variadas — de cunho político e econômico —, e podem empreender patriotadas pirotécnicas.

Aos fatos. O tal Estado Islâmico nasceu das turbulências que agitaram o Oriente Médio, notadamente na Síria, onde o levante popular não conseguiu derrubar Al-Assad. Com o aval da Otan, ajudaram-se ‘rebeldes’ com armas e munição, e daí surgiram tropas muito bem treinadas que, sob uma interpretação seletiva e ultrafundamentalista do Corão, tomaram conta de cidades inteiras. Nelas disseminam o ódio ao Ocidente e instauram regras próprias, decretando pena de morte a quem ousar desobedecê-las. Por isso cometem-se barbaridades.

Reino Unido e Austrália elevaram o alerta de atentados, mas não é possível afirmar se o Estado Islâmico opera fora de seu território. Pelo sim, pelo não, autoridades americanas também tremem com a possibilidade de já abrigar em seu solo radicais dispostos a levar o caos mais uma vez ao país, 13 anos após a hecatombe das Torres Gêmeas e da morte de milhares de pessoas. E cabe destacar que a causa irracional dos comandados de Abu Bakr al-Baghdadi arregimentou legiões de europeus — o carrasco dos jornalistas, por exemplo, é britânico.

É compreensível que o país que se autointitula a polícia do mundo anuncie a caçada sem fim aos facínoras em todo o mundo, como prometeu Obama, em discurso na quarta-feira. Sobretudo por se tratar de dois cidadãos americanos as vítimas decapitadas pelos jihadistas. Mas a feroz ofensiva não pode servir de pretexto para os Estados Unidos transformarem a Síria em um novo Iraque — nação dilacerada por uma guerra desigual e, hoje, um arremedo de governo que se sustenta por um fiapo, não à toa ameaçado pelo próprio Estado Islâmico.

Você pode gostar