Por bferreira

Rio - A ascensão eleitoral de Marina foi duplamente abrupta. De uma hora para outra, ela deixou de ser vice de uma candidatura minguada e, alguns minutos depois, já figurava nas pesquisas como vencedora de um segundo turno que ela mesma tornou inevitável. Talvez por conta dessa elevação dupla e repentina, as reações a sua candidatura tenham se polarizado de forma igualmente intensa.

Não pretendo aqui empilhar argumentos para socorrer marinistas ou antimarinistas, muito menos tentar conciliar – bem à moda da candidata do PSB – essas duas posições. O que me parece intrigante é o fato de Marina se sair mais forte depois de cada um dos ataques que recebe.

Os críticos de Marina têm razão quando apontam o seu caráter vacilante e suas propostas imprecisas. A modificação da parte do seu programa de campanha dedicada aos direitos LGBTT expressa bem esse modo de ser. Mas alguns de seus defensores também têm razão quando dizem que Aécio Neves não parece ser mais progressista neste ponto e que Dilma Rousseff não obteve conquistas importantes relativas à temática durante seu governo.

Os críticos de Marina acertam ao denunciar seu compromisso com a autonomia do Banco Central. Trata-se de uma mudança institucional aparentemente pequena, mas que implica conceder uma enorme liberdade ao já poderoso mercado financeiro. Por outro lado, tanto Aécio quanto Dilma defendem a mesma prática, ainda que discordem sobre a necessidade de sua institucionalização legal.

Os críticos de Marina têm motivos para temer seu messianismo personalista, que ignora os partidos políticos em favor das “pessoas de bem” que estão no “banco de reservas” de cada legenda. Porém, vale lembrar que esse discurso conciliador não é retoricamente tão distante da versão “paz e amor” do Lula de 2002 ou do FHC “campeão da União” de 1998.

Não devemos ter receios das transformações que Marina pode promover, mas sim da sua paradoxal competência em canalizar a vontade de mudança do eleitorado sem, contudo, se distanciar muito do que aí está e esteve. Esse discurso só convence porque tanto PT quanto PSDB são vistos como partidos equivalentes por parte do eleitorado.

É verdade que, durante as eleições, os dois partidos costumam disputar os mesmos apoios, prometem respeitar o mesmo tripé econômico e reivindicam a paternidade dos mesmos programas sociais. Mas para além das eleições, PT e PSDB conduziram a sociedade brasileira em direções bem distintas, por vezes opostas. Para perceber a contradição no discurso de Marina, que propõe criar uma nova política a partir das mesmices, é preciso entender as divergências entre os dois partidos e que o Brasil dos últimos vinte anos não viveu apenas “mais do mesmo”.

Luiz Augusto Campos é sociólogo, professor do Iesp/Uerj e da Unirio

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