Por bferreira

Rio - As Unidades de Polícia Pacificadora foram uma excelente ideia para a segurança pública no Rio de Janeiro. Inegavelmente foi, em muito tempo, o primeiro exemplo de política de segurança de Estado a emplacar no território fluminense. Mas o sucesso das UPPs acarretou dividendo eleitoral fabuloso e aí, como toda boa ideia apropriada politicamente, sofreu suas manipulações.

Nossas autoridades públicas venderam uma pacificação sem conflitos, sem mortes, asséptica, sem danos colaterais. Como se aqueles que passaram a vida toda vivendo do crime fossem se contentar em perder a boquinha e aderir a uma vida honesta, cheia de limitações e sacrifícios. Era o próprio omelete sem quebrar ovos.

Depois de um prudente recuo inicial, o tráfico voltou à carga nos locais ocupados pela polícia, com armas de fogo de tipo restrito e até artefatos explosivos. Desde o início do ano, cerca de oitenta policiais já foram assassinados no Rio de Janeiro, sendo que desse total sete morreram em serviço, enquanto trabalhavam em áreas “pacificadas”.

É triste que, quer pela pressão dos políticos, quer pela nossa própria turronice ou mesmo incompetência, nós estejamos vendo policiais morrendo e o crime forçando barra para voltar a impor-se nas áreas pacificadas. Infelizmente parece-me que não conseguimos aprender com nossos próprios erros e nossos próprios cadáveres.

O quantitativo de policiais é francamente insuficiente para a quantidade de ocupações que foram levadas a cabo, e esse cobertor curto impede uma presença policial em força, durante todo o tempo, como seria desejável. Se o torniquete policial é frouxo, o sangue espirra por onde não há a necessária pressão. Se o efetivo é insuficiente, temos de contrabalançar isso com táticas inovadoras e que surpreendam o adversário.

Nós desaprendemos segurança física de instalações.Tínhamos de dotar os efetivos de instalações defensáveis. Nós instalamos policiais em aquartelamentos e em delegacias sem as mínimas condições de defensabilidade. Nas unidades de linha de frente põe-se o container lá com água, luz e teoricamente está tudo certo, é só trabalhar. Ainda, de quebra, não estimulamos o estabelecimento de procedimentos de guarda, quase que acreditando na ideia da guerrinha de mentira, em que os bandidos não terão peito de vir caçar os policiais em casa. Há muito que deveríamos esclarecer aos nossos inexperientes policiais dos riscos que eles correm e do modus operandi covarde dos nossos adversários.

Temos de ter efetivo em condições e não relaxados, achando que o serviço no local é tranquilinho e que o pior não vá acontecer. Pensando no risco que pode se materializar a qualquer momento, talvez os plantões tenderão a ser mais desgastantes. Mas ninguém deveria ter se iludido com a ideia de que operar num terreno onde o tráfico mandou durante tanto tempo pudesse ser um faz de conta tranquilo.

Desde as ações da tomada dos morros às operações conjuntas de militares e policiais, já devíamos tratar o contencioso com a criminalidade, não como uma ação repressiva de policiamento ordinário, mas como uma contrainsurreição, onde os grupos de traficantes bem armados agem clandestinamente e são a guerrilha inimiga.

Enquanto insistirmos tratando esses casos como problemas do policiamento tradicional, mas continuarmos chorando e enterrando os nossos agentes de segurança. Podemos fazer melhor, mas precisamos ter coragem política para tocar o que deve ser feito.

Vinícius Cavalcante é diretor regional da Associação Brasileira de Segurança

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