Por bferreira

Rio - Os resultados oficiais das eleições contrastaram com muitos dos números das pesquisas de intenções de voto da semana passada — e sobretudo com os das sondagens de boca de urna. Mas não é a primeira vez que Ibope e Datafolha erram fragorosamente. Certamente haverá ‘estatistiquês’ que justifique a lambança, mas a questão não é só essa: é preciso reavaliar o papel dos levantamentos na vida política — aí incluída a adesão da imprensa a esse hábito.

O mais grotesco aconteceu nas projeções para o Guanabara. Embora tenha sido detectada tendência de alta de Crivella, a boca de urna foi categórica ao cravar, e desprezando a muleta da margem de erro, que Garotinho passaria com folga ao segundo turno. O Ibope não podia ter sido mais infeliz. Não acertou o placar dilatado a favor de Pezão e pariu porcentagens irreais na disputa da vice-liderança. Crivella tem razão ao chamar o instituto de “catastrófico”.

Errou-se ainda nos levantamentos para a corrida ao Planalto: segundo os institutos, Dilma rasparia na chance de ser eleita já no domingo, e Marina, apesar da descendente, estaria no “limite da margem de erro” e poderia derrotar Aécio. A verdade foi outra. O tucano terminou muito mais próximo da presidenta, cujo fôlego ficou aquém do estipulado, e se distanciou de Marina — e seu desempenho mais mirrado que a pior das porcentagens colhidas semana passada.

Em 2010 e em 2012, outros deslizes. Os mais ruidosos foram a subestimação de Marina em sua primeira candidatura ao Planalto e a disparidade no resultado para prefeito de São Paulo, no qual os institutos não detectaram a queda de Russomanno. Agora, em 2014, tornam a errar.

Muito antes de se fazer juízo de valor — apurando, por exemplo, se há motivações para apresentar números incondizentes com a realidade —, a sociedade precisa redefinir sua relação com os institutos de pesquisa, que ganham milhões com suas sondagens. De início, cristalizar a certeza de que Ibope, Datafolha e Sensus não são ‘IBGEs’ e não fazem censo. Em seguida, parar de confiar cada passo a ser dado aos números apresentados — no máximo, balizar decisões. A imprensa também deve rever o peso dado às pesquisas. É importante medir o desempenho dos postulantes, mas é primordial dar mais ênfase a programas de governo, esclarecendo pontos obscuros e cobrando soluções. O resto é estatística.

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