Rio - A derrota de Celso Russomanno, representante da Igreja Universal do Reino de Deus, nas eleições para prefeito de São Paulo em 2012 — quando sua popularidade despencou de 35% para 21% — é reeditada na eleição presidencial de 2014, com o baque sofrido pela candidata ambientalista Marina Silva (PSB), que, depois de liderar pesquisas de intenções de voto, foi alijada do processo sucessório.
A maldição divina parece que castiga aqueles que utilizam a palavra de Deus em vão, consoante reza o segundo mandamento, como trampolim para chegar ao poder. Fiel seguidora da Assembleia de Deus, Marina paga a mesma penitência que Russomanno sofreu ao se encontrar em São Paulo com os evangélicos da Universal.
Com discurso vazio pregando uma “nova política” e afirmando que iria “governar com os puros”, “plantou vento e colheu tempestade” ao expor seus dogmas da fé como mensagem para seduzir o eleitorado insatisfeito com a estagnação do crescimento da economia do governo de Dilma Rousseff.
Preconceituosa, avessa a discutir temas polêmicos como casamento entre pessoas do mesmo sexo, é enterrada no mausoléu dos historiadores porque ancorou sua retórica de campanha na religião como alicerce de suas ambições, substituindo a força dos partidos políticos em democracias sólidas, como é o caso do Brasil de hoje.
Pastores e candidatos evangélicos deveriam entender que a igreja é um templo sagrado de Deus, e não franquias religiosas a serviço de líderes carismáticos donos de horários de programas de TV, que anestesiam seus súditos com intuito de comandar parte da base aliada no Congresso.
A morte política da ambientalista com a ascensão de Aécio Neves (PSDB) traz de volta para a pauta das discussões a ‘Reforma Política’ que tramitava no Congresso e o corte no número de ministérios como meta de redução dos custos da máquina pública.
Aécio entra forte no segundo turno, mas terá que mudar seu discurso cartesiano em linguagem popular para seduzir o eleitorado. Preso a conceitos técnicos, tem que entender que taxa de juros Selic para o povo é vitamina para engordar os lucros dos bancos, que superávit primário é remédio para emagrecer o tamanho do Estado, e que o povo não sabe o que é “gestão” e tripé de política econômica do governo de FH. Só assim terá chances de ganhar a eleição.
Aécio no segundo turno enriquece o debate entre as correntes que pregam mudanças priorizando estabilidade da economia com crescimento do emprego e do PIB e inflação baixa contra os vetores centrais que norteiam o programa de governo da presidenta Dilma na manutenção do combate às desigualdades sociais.
A disputa no segundo turno entre Dilma e Aécio simboliza a vitória dos partidos políticos contra os representantes de segmentos religiosos em eleições majoritárias.
Wilson Diniz é economista e analista político