Rio - Nada poderia consolidar mais a democracia brasileira do que a disputa da sucessão presidencial se passar entre dois candidatos de propostas distintas. Chegamos a correr o risco de uma disputa entre candidatas da mesma origem, da mesma maneira de pensar o Brasil e o mundo. Explicar o fenômeno a estrangeiros gerou até constrangimentos.
Segundo turno é nova eleição, e os candidatos têm o dever de mostrar o que pretendem fazer e de justificar posições no trato da economia, das relações internacionais, no comportamento de companheiros de vida pública. E ambos os candidatos têm história para contar e condições para responder.
Aécio Neves foi governador por oito anos e saiu consagrado, a ponto de fazer seu sucessor, que não era político, e domingo mostrou o quanto acertou em sua gestão com a inequívoca vitória na disputa pela vaga mineira no Senado. A derrota na eleição de governador se deveu mais a um erro de natureza política, uma vez que Pimenta da Veiga seria um grande gestor, mas não um bom candidato, repetindo 1990, quando também não passou ao segundo turno. Na decisão pode ter faltado consulta mais ampla e franca aos seus aliados na classe política mineira. A colaboração com o candidato petista, quando este foi prefeito de Belo Horizonte para série de projetos de interesse público, confundiu o eleitor.
A presidenta Dilma, por sua vez, tem a responder pelo seu mandato e, em alguns setores, como o de energia, pelos oito anos do presidente Lula. Tem posições claras, definidas, sobre as relações preferenciais do Brasil na política externa, assim como o papel que nos é reservado na sustentação de nações amigas com problemas de abastecimento. No mais, apesar de estar acima de qualquer suspeita pessoal, enfrenta dificuldades com as denúncias de corrupção. Os números da economia não estão favoráveis, embora parcela significativa do eleitorado não perceba os reflexos na qualidade de vida de todos os brasileiros. A situação na verdade é gravíssima.
O crescimento de Aécio tem um significado importante, na medida em que mostrou a força de um pensamento de conteúdo liberal na economia, na crença no papel da livre empresa no processo de desenvolvimento nacional, na ação do Estado voltada para saúde, educação e segurança pública, liberando os agentes econômicos para a geração de empregos e consequente crescimento da receita para fazer face aos investimentos na infraestrutura e nas políticas sociais. A sociedade mais responsável, afinal, não estava tão alienada como chegou a parecer. E o bom senso acabou por prevalecer, surpreendendo os mais conceituados institutos de pesquisas eleitorais. É ainda possível que Aécio troque de vice, para o que não encontrará dificuldades junto ao senador Aloysio Nunes, que tem mandato até 2018. O objetivo seria abrigar um nome forte que represente uma nova aliança.
Está, portanto, nas mãos do povo decidir se quer um governo de resultados práticos, sem preocupações ideológicas, de união de todos brasileiros, ou se prefere um governo voltado para o dia a dia, sem planejamento, sem integração internacional, com loteamento político sem limites. Tudo parece muito simples. Mas no primeiro turno, sem dúvida, o bom senso se fez presente na manifestação que levou o segundo turno a esta disputa tão clara. Seja o que Deus quiser! Quem viver verá!
Aristóteles Drummond é jornalista