Rio - A megaoperação que desarticulou ontem quadrilha que realizava abortos no estado, com quase 60 presos, expôs a fragilidade da lei no combate a esse crime, o que acabou por tornar a atividade extremamente lucrativa. A despeito do necessário debate dentro das questões de saúde pública, sem as paixões de cunho religioso, é primordial rever os mecanismos penais para que se estanquem os “açougues humanos”, na definição do delegado Glaudiston Galeano.
Definitivamente não é por diletantismo ou compaixão que os 75 procurados na Operação Herodes insistiam nas cirurgias clandestinas — alguns há quase meio século, e com histórico policial tão longevo quanto. O que move essas pessoas é o dinheiro, como comprovam as quantias apreendidas em espécie, os imóveis à beira-mar e até uma milionária conta na Suíça. A boa vida dos acusados, no entanto, não garantiu segurança às grávidas que a eles recorreram — basta pegar dois casos recentes, o de Jandyra e o de Elizângela, para ter a dimensão da crueldade e do pouco-caso desses criminosos.
Não adianta encarcerá-los se eles forem soltos meses depois. Se o Brasil optar por continuar a proibir o aborto, que se façam ajustes na lei. Do contrário, o país seguirá fingindo não tolerar a prática, fazendo vista grossa para as centenas de mulheres que arriscam a vida com açougueiros gananciosos.