Por bferreira

Rio - Ser simples é um estado de espírito difícil de se alcançar. Uma busca pela liberdade, pela entrega dos excessos que, sem perceber, já achamos necessários. Mas nós precisamos deles ou as empresas criam tais necessidades para incentivar nosso consumismo? Ter um iPhone XYZ é vital ou um quer porque todos querem? Pelo simples fato de que agimos em grupo? É como me disse um amigo psicanalista: “O capitalismo joga biscoitos de prazer ao desejo”. Só que o desejo, hoje, é provocado magistralmente, é produzido na subjetividade, e não é somente um comportamento natural. É aí que caímos na armadilha.

Se voltar-se para o simples pode parecer uma ingenuidade romantizada da vida, analisando por um outro aspecto é um crescimento. A busca por mais e mais vira um saco sem fundo, ficamos o eterno coelho correndo atrás da cenoura, porque o ‘mais e mais’ não tem fim. Ficamos reféns. Saber parar é libertador. Por isso na moda e no comportamento há sempre um retorno ao básico depois de um período de exagero. Saem as ombreiras e vêm as roupas certinhas no corpo. Nunca notou? Depois do hype, vem o simples. É assim... uma onda natural. A busca pela simplicidade é tendência, como mostram as últimas notícias do mundo da moda, focadas no ‘normcore’, uma maneira de se vestir que está em alta entre quem mais entende do assunto, que é a busca pela elegância natural. A moda que prega esquecer a cor da vez, os saltos altíssimos, os cortes estruturados e detalhes que nos privam do nosso bem-estar. É sair naturalmente por aí, e se enfiar em algo confortável, mas não relaxado. Pensado. Sem ostentação.

Tudo que é mega, ultra, enjoa. Obrigada a passar alguns meses longe da minha rotina de anos, acabei notando que não sentia falta de nada a que eu estava acostumada. Minha mente ficou limpa, plena. Como se tivesse aberto novas gavetas, vazias, com espaço para serem preenchidas com informações mais relevantes, embora mais simples. Assimilar gestos, sabores. Esquecer o antes. O período anterior foi importante para eu valorizar o novo, sem agenda lotada, sem supérfluos, como se atingisse uma perfeição do ser.

Pesquisando, descobri que essa ânsia pela simplicidade não era novidade, nem exclusividade minha. E sim parte da filosofia grega, de uma escola chamada estoicismo. Os estoicos aconselham a indiferença a tudo que é externo ao ser. O sábio não se deixa escravizar pelas coisas externas e para tal vive de acordo com a razão, sendo esta o meio que o torna livre e feliz. Complicado, né? Mas extremamente simples.

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