Por bferreira

Rio - Fiquei embasbacado vendo na TV o futebol brasileiro voltando ao resplendor no jogo contra o (ótimo) time da Turquia. Miraculosa volta aos bons tempos (que falta nos faz o João Saldanha). A rapaziada jogando por telepatia, lançamentos perfeitos, tesão, técnica e alegria. Só faltaram mais três gols (o gol contra não vale) para deletar a tragédia do 7 a 1 contra a Alemanha. Justamente as três defesas miraculosas do goleiro Babakan. Neymar e Willian me fizeram lembrar as tabelinhas de Pelé e Coutinho que vi ao vivo no estádio da Vila Belmiro quando morava em Santos. Foi de arrepiar a torcida turca aplaudindo de pé o gol do Neymar. A única coisa que não entendi foi o seguinte: a TV mostrava, a cada gol, os jogadores e a própria torcida felizes com a beleza do futebol apresentado. Com uma exceção: Dunga fazia carrancas horrendas, de sofrimento, parecendo que nosso time estava levando uma goleada. Há alguma coisa de errado com esse rapaz... acho que devia fazer terapia. Sugiro que faça análise de grupo: ele e dez psiquiatras.

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O mundo está extasiado com a façanha da sonda lançada de um insignificante planeta. Depois de viajar 6 bilhões de quilômetros, pousou com precisão milimétrica, comparável ao passe de Neymar para Wilian, num cometa igualmente insignificante. Tudo isso rastreada o tempo todo pelos cientistas do Vale do Silício. O espantoso é que os seres que conceberam essa maravilha são os mesmos (ditos humanos) que apedrejam até a morte uma mulher que ousou não usar burca, assassinam dezenas de estudantes, decapitam correspondentes de jornais, matam mulheres em conhecidas clínicas de aborto “clandestinas”, vendem o sonho da beleza com exercício ilegal (e mortal) da medicina, traficam drogas e armas em consultórios dentários e por aí vai... é só olhar o jornal que amanhã tem mais.

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Quando eu era jovem tentei, lendo e relendo, sem êxito, passar da página 90 de Ulisses. Acabei desistindo como um monte de intelectuais que escrevem em suplementos literários e não têm coragem de confessar, como estou fazendo agora. Agora, aos 82 anos, as novelas da TV são para mim tão difíceis de entender quanto a obra prima de James Joyce. Ainda sobre TV: nos noticiários os pobres não tem sobrenome — é a Dona Maria da Glória dizendo que seu barraco foi levado pela enxurrada e seu Raimundo esperando na fila do SUS há quatro meses. Já os ricos têm, além do nome, direito a todos os sobrenomes, por mais quilométricos que sejam. E nós com isso?

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