Por felipe.martins

Rio - Do conforto de suas histórias, dizem: não há consciência negra, nem branca; só há consciência humana. Seria verdade, se vivêssemos num planeta humano, mas como vivemos neste aqui, que separa pretos e pobres, essa consciência negra deve estar relacionada aos perrengues que passaram (e passam) o povo negro que veio escravizado e aqui está tentando se reerguer.

Esqueçam que seus avôs foram libertados! Esquecer como, se o Estado libertou e não amparou? Pimenta no dos outros é mole. Pois sim, consciência negra, gay, indígena, feminina sim. Porque todas as consciências foram moldadas desse jeito, repetindo anualmente seus mitos e ritos. Taí o Natal que não me deixa mentir, que todos os anos monta presépio com santinhos brancos, de olhos claros, e tem como cota um único rei mago negro. De seis personagens, um negro, menos de 20%. Igual nas novelas. E não venham me dizer que Jesus é universal, da tal consciência humana e não branca, porque todo navio negreiro tinha lá sua capelinha católica ensinando pros negros acorrentados que eles não tinham alma.

Viva o dia de Zumbi, que ensina a todos que é preciso montar quilombos em qualquer lugar para lutar por justiça social e oportunidades. Que aliás vem minguando a cada ano: minha gente, o que estão fazendo com a celebração na Presidente Vargas é de chorar. Eu, que participo há dez anos, já prevejo que vão estabelecer duas horas de cerimônia, e já pra casa. Nem banheiro químico tinha este ano. Tá feia a coisa, e a falta de apoio é total. Mas apoiar o quê, diriam os poderosos? Aquela festa com gente dançando samba de roda, aquelas mães e pais de santo majestosamente vestidos? Mas essa gente dá voto, essas coisas têm alguma relevância social? Pois eu, que vivi dias de glória ali, naquele asfalto, com o saudoso líder Paulão (até o governador Sérgio Cabral foi visitar a festa e discursou), hoje sou testemunha que tá de mal a pior.

Aí eu me pergunto: se a parada gay está bombando, inclusive atraindo o crime organizado (acho aqueles grupos de trombadinhas organizadíssimos, eu estava lá e vi) pois é evento de grandes possibilidades lucrativas, o Dia da Consciência Negra, com suas festa no monumento de Zumbi, não atraiu nenhum pivete que lhe desse algum noticiário ou glamour carioquíssimo. Eu lá, esperando pelo empurra-empurra, mas quando contei a galera linda que estava em baixo da tendinha e se apresentando no monumento, não dava nem um trio elétrico. Tá na hora de o Movimento se organizar e ir bater na porta do prefeito e do governador. Se os outros conseguem, é preciso cobrar dos líderes negros mais representatividade social, que obrigue estes poderosos a respeitar Zumbi.

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