Por thiago.antunes
Rio - A confissão de Sailson José das Graças sobre as bárbaras 43 mortes na Baixada chocou o país — e sua prisão é um alento à sociedade. Mas aconteceu por obra do acaso. A se confirmar a autoria do ‘Monstro de Corumbá’ nas execuções que alega ter cometido em nove anos, a polícia terá diante de si uma das mais vexatórias situações de toda a sua história.
Autoridades ficaram tão atônitas quanto a população diante da frieza e dos detalhes assombrosos de Sailson. Essa atonia, porém, escancara ao menos uma grave incompetência: como não se viram semelhanças em 43 homicídios — quase todos de mulheres e com facas ou esganaduras?
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O 'Demônio da Baixada' está longe de ser um gênio do crime. Se conseguiu alimentar sua doentia pulsão por matar durante nove anos, foi mais pela leniência da polícia e menos por suposta cautela na hora de se desfazer dos corpos. Diluíram-se as vítimas de Sailson numa estatística que parece desmerecer mortes na Baixada, como se fosse ‘natural’ alguém perder a vida de modo brutal por lá.
O episódio se agrava com o fato de Sailson ter sido preso quatro vezes por crimes menores — roubo, por exemplo —, a despeito de denúncias de sobreviventes do maníaco. Mais uma vez, o misto de apatia e inação. E o monstro continuou a matar.
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Espera-se mais atenção da polícia a partir de agora. É utópico querer no curto prazo e em todo o país um tratamento de filme policial, com parafernálias e portentos trabalhando para pegar psicopatas a partir de resíduos de meia pegada. Mas é bastante razoável não banalizar mortes e se esforçar em elucidar casos — isso bastará para diferenciar latrocínios de crimes passionais e sobretudo de ataques bestiais de dementes.