Por thiago.antunes
Rio - As inacreditáveis declarações do deputado Jair Bolsonaro contra a colega de Congresso Maria do Rosário, de que ela “não merecia ser estuprada”, desviaram a atenção de outra situação bizarra protagonizada pelo parlamentar. No final de novembro, ele visitou a tradicional Academia Militar das Agulhas Negras, onde foi saudado pelos aspirantes aos gritos de “Líder! Líder!”. Apesar da proibição de manifestações de caráter político-partidário por parte de militares da ativa, o episódio, noticiado pelo DIA, continua sem consequência conhecida. Ao que se sabe ninguém foi punido.
É preocupante que aspirantes, recém-encaminhados para o oficialato, comecem sua trajetória desobedecendo ao Estatuto dos Militares. Nada os proíbe de ter preferência política, seja de qual coloração ideológica for. O que o regimento impede é que essa preferência se manifeste publicamente. Foi justamente isso o que aconteceu naquela visita de Bolsonaro, quando o deputado prometeu se lançar à Presidência da República em 2018, para encaminhar o Brasil para a direita, segundo disse.
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O problema não é o apreço dos formandos por Bolsonaro. O centro da questão é que as palmas dos aspirantes e seus brados ao deputado identificando-o como líder representam quebra da disciplina militar. Sabe-se que a hierarquia é a base do militarismo e a liderança na caserna é exercida pelos superiores naturais e, em última instância, pelo chefe das Forças Armadas, a presidenta do Brasil. Tratar o deputado dessa forma, é uma atitude que requer reação firme do comando da Aman.
A punição, porém, não veio. O problema, então, cresce de proporção. Se o comandante da academia permite esse tipo de manifestação, é ele quem deixa de cumprir o Estatuto dos Militares. E assim, sucessivamente, o comandante do Exército e o ministro da Defesa. Na solução mais simples, a torcida é que o comandante da Aman anuncie alguma medida adequada.
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É certo que o Brasil atravessa tempos complexos, em que as instituições são reviradas pelo avesso. Desarmar o mecanismo da disciplina e da hirearquia nas Forças Armadas, no entanto, é algo que nem os próprios partidários de Bolsonaro, a ser sincera sua profissão de fé nos militares, deveriam apoiar.
Francisco Alves Filho é jornalista do DIA
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