Por bferreira
Rio - Desde o momento em que o ensino de nove anos foi implantado no Brasil, há divergência sobre a ideia de se alfabetizar aos 6 anos. Isso se deve ao fato de vigorarem concepções de desenvolvimento embasadas em fases do ser humano. A primeira alegação é que as crianças são imaturas e só querem brincar. A segunda é que se está roubando a infância e colocando crianças pequenas em situações estressantes de aprendizagem — o que não é uma inverdade: há casos de treino que levam momentos de lazer, em que se poderia brincar.
Hoje, porém, a Psicologia do Desenvolvimento Humano já faculta entendermos o desenvolvimento do ser de outra maneira. Se, nas perspectivas que até então vigoraram, temos entendimento de um ser que primeiro se desenvolve para depois poder aprender, sob o prisma sociocultural para se desenvolver é necessário aprender.
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Isso implica conceber que a inteligência e o desenvolvimento das competências e habilidades que utilizamos não nascem conosco, mas nos são dados graças à inserção num grupo social. Em outras palavras: tudo o que somos devemos às nossas relações com os grupos com que convivemos.
Assim, quanto mais cedo a criança for inserida num grupo leitor, que signifique para ela o poder e a magia da leitura e da escrita, dificilmente se sentirá sobrecarregada. E isso pode ser divertido se a escola e a família tiverem claro o pressuposto de que se aprende lendo, escrevendo e pensando sobre a escrita, mesmo que isso seja realizado através de ações no cotidiano.
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Dessa forma, sem passar por exercícios mecânicos, as crianças podem se inserir no universo leitor através de um educador que seja seu porta-voz e consiga demonstrar através da produção coletiva, que a escrita é a porta para um mundo sem limites e que, mesmo sem saber escrever, pode-se iniciar o processo de alfabetização e letramento.
Quando crianças pedem para adultos escreverem por ela ou imitam o ato da escrita, com rabiscos ou algo que imite letras, elas já se apropriaram de um dos maiores tesouros da humanidade: o conceito de que a escrita vai mais longe, tem o poder de atingir o outro e, sobretudo, é uma forma eficaz de se passar por este mundo!
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Sandra Bozza é professora, linguista e socióloga